quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Anjo do Desejo

Existem filmes tão equivocados em sua proposta que é difícil determinar o quê pretendiam dizer, ou o quê, no fim das contas, são.
Este conto algo lisérgico sobre decadência parece ensaiar uma tentativa de ser um drama, uma referência tênue, gaiata e muito hesitante à “Monstros”, de Todd Browning, arrisca virar uma história de amor, mas esbarra na falta de química atroz do par central, e acaba encerrando-se num final circular que, embora até interessante, nada acrescenta ao todo.
O problema talvez seja –como veremos mais adiante –os três principais nomes envolvidos na produção: O ator Mickey Rourke (que à despeito de seu talento, aqui mostra-se completamente perdido), a atriz Megan Fox e o diretor Micht Glazer, que trabalha num roteiro de sua própria autoria.
Mickey Rourke é Nate Poole, um trompetista que vive à duras penas nas empoeiradas cidades do meio-oeste americano, vivem de tocar em espeluncas e boates de strip-tease. Logo no início ele é abordado por um matador contratado que o leva para o deserto a fim de executá-lo por ter mexido com a mulher errada. E nessas primeiras cenas já se percebe a incapacidade do diretor em dar qualquer fôlego narrativa à elas.
Poole é salvo, sem maiores explicações, por atiradores índios vestidos de branco (!) e, a partir daí, caminha a esmo pelo deserto, terminando por deparar-se com um circo de aberrações.
É curioso notar que, embora o roteiro pertença ao diretor, ele não soube enfatizar o aspecto absurdo e surreal que pulsa de sua trama, e optou por uma condução que soa desanimada e desanimadora o tempo todo.
Por isso, já não nos importamos muito quando o personagem de Rourke encontra Lilly (Megan Fox, ratificando sua incapacidade como atriz), uma bela jovem que, sabe-se lá como, possui duas asas nas costas (como um anjo), e que por isso é a atração principal do lugar. Poole a convence a fugir dali com ele e, embora haja uma conexão amorosa que se consuma, ele a sua como moeda de troca numa negociação que envolve o gangster que havia encomendado sua morte (Bill Murray, graças à Deus uma coisa que presta neste filme!).
Assim, além da pretensão em carregar seus personagens (sobretudo o protagonista) em tintas ambíguas, que terminam apenas lhe conferindo uma prejudicial apatia, a produção não diz a que veio, seja como romance, como suspense, drama alegórico ou qualquer coisa que seja.
Mickey Rourke e Megan Fox estão tão ruins em cena que parecem competir quem tem o rosto de botox mais inexpressivo (acho que é Mickey Rourke!) e, como eles são os protagonistas, isso corresponde a noventa e cinco por cento de todo o filme!!!

O desfecho (quando surge uma cena que revê seu prólogo e dá novo significado à trajetória da obra como um todo) poderia até valorizar o filme, se a mediocridade de tudo o que veio antes não tivesse estragado toda a receita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário