A recepção positiva que esses personagens
receberam nas suas mais variadas aparições na mídia e na cultura pop é bastante
indicativa do quão populares eles são junto ao público.
Criados no final da década de 1980 por Kevin
Eastman e Peter Laird (produtores da revista “Heavy Metal”) para uma linha de
quadrinhos alternativos com ligeira e debochada influência nos heróis da
Marvel, as Tartarugas Ninja logo passaram a fazer sucesso ganhando, nos anos
1990, um desenho animado que as introduziu no subconsciente infantil de toda
uma geração.
Em algum momento desse sucesso todo, foi
realizado também um filme.
Dirigido pelo mesmo Steve Barron que realizou
algumas produções cult dos anos 1980 (como o açucarado “Amores Eletrônicos”), o
primeiro longa do quarteto de tartarugas tinha a bela atriz Judith Hoag como a
repórter April O’ Neil –a melhor amiga humana das tartarugas –e Elias Koteas
(de “Além da Linha Vermelha” e “Crash-Estranhos Prazeres”) como o vigilante Casey Jones.
Para concretizar a tarefa inédita de materializar os quatro tartarugas ninja
com realismo em um filme, a produção trazia uma hoje datada técnica de animatrônica,
com atores usando imensas máscaras dos personagens nas quais a boca e os olhos
se movimentavam. Nada disso impediu que a molecada da época ficasse fascinada
com o filme e o transformasse num sucesso de bilheteria. Hoje, ainda dotado
daquele charme nostálgico oitentista, ele é lembrado como mais um dos muitos
“clássicos da sessão da tarde”.
Como era habitual ocorrer na época, a indústria
não tinha uma ideia exata de como trabalhar os ingredientes de seu próprio
produto e o filme ganhou anos depois uma continuação, em tudo e por tudo
inferior: “As Tartarugas Ninja-O Segredo do Ooze”, dirigido pelo operário
padrão de filmes B, Michal Pressman, no qual um dos destaques era uma ponta
(vergonhosa como sempre!) do infame popstar Vanilla Ice.
O grupo formado por Leonardo, Michelangelo, Rafael e Donatelo defrontava-se, mais uma vez com o ninja Destruidor (num gancho que ligava mal e porcamente este com o filme original), e com as consequências de uma substância estranha -o Ooze! -capaz de criar humanóides: Este filme trás, portanto, a primeira tentativa em trazer alguns personagens da série animada de TV (ou pelo menos, pressupõe-se que aqueles capangas que aparecem tinham intenção de ser Rocksteady e Bee-Bop, já que a tosqueira absoluta que predomina na produção deixa as coisas meio... indistinguíveis!).
Por alguma razão, Judith Hoag não voltou para
interpretar April (e penso que ela estava certíssima), e quem assumiu seu lugar para pagar esse mico foi a bela Paige Turco.
À essa continuação seguiu-se um filme para a TV
ainda mais inferior (onde os personagens voltavam no tempo e viravam
samurais!!!), e depois dele uma paupérrima série live-action, já no fim dos
anos 1990. As Tartarugas Ninja começavam a cair numa certa obscuridade.
Na década que se seguiu muitas foram as
tentativas de restabelecer as Tartarugas Ninja com o mesmo apelo de público
avassalador que eles tiveram nos anos 1980, inclusive com uma ótima animação
para cinema lançada em 2007, dirigida por Kevin Munroe.
Nela, Rafael, Michelangelo, Leonardo e
Donatelo, o quarteto de tartarugas ninja mutantes que lutam contra o crime,
retornava num longa-metragem de computação gráfica, que restaurava um pouco do
clima violento da HQ underground da qual se originaram, deixando de lado o tom
infantilizado que foi banalizando cada vez mais os personagens na sua série de
animação convencional da década anterior. O resultado, embora não tenha a
perfeição de um padrão "Disney", por exemplo, foi muito bom.
Uma pena não ter rendido o êxito esperado.
Em 2014, contudo, foi a vez de arriscar um novo
filme live-action para cinema. O diretor era o jovem Jonathan Liebesman (do
frenético e ensurdecedor “Invasão do Mundo-Batalha de Los Angeles”), mas
controle técnico e criativo, em todos os aspectos, estava com seu produtor, o
famigerado Michael Bay. É muito do seu estilo explosivo, alucinado e
espalhafatoso que se vê em cena refletindo-se em escolhas um pouco equivocadas
como a escalação bastante inadequada de Megan Fox (jovem atriz assídua em
trabalhos de Michael Bay, como “Transformers”) para o papel de April O’ Neil
–ainda que ela seja linda! –e na caracterização exageradamente anabolizada das
tartarugas (que agora são enormes e brutamontes!). A grande novidade, em si,
era o emprego de efeitos especiais de captura de performance, tal e qual eles
eram utilizados, por exemplo, em “Planeta dos Maçados-A Origem”. A técnica,
originada no épico “Avatar” de James Cameron, permitia que se criassem seres
inumanos com as mesmas expressividades de seus intérpretes humanos, e isso caia
muito bem num projeto envolvendo os tartarugas.
A trama,
como sempre, não mudou muito: A repórter April O' Neil investiga acontecimentos
estranhos envolvendo vigilantes misteriosos que têm combatido a principal
quadrilha criminosa de Nova York: A Gangue do Pé. Esses vigilantes, ela
descobre, são tartarugas, e são ninjas! Criadas nos esgotos por um acidente
químico, essas tartarugas (Leonardo, Rafael, Michelangelo e Donatelo) foram
treinadas pelo rato (e mestre em artes marciais) Splinter, e preparam-se para o
seu maior desafio: enfrentar o perigoso Destruidor (convertido do que deveria
ser um ninja, numa espécie de vilão robotizado, no que deve ser o maior erro
deste filme!), líder absoluto de toda a Gangue do Pé, que guarda planos
terríveis envolvendo NY.
Não há como negar que a tecnologia de efeitos
especiais aperfeiçoa e amplia as cenas de ação (embora seu exagero seja também
um dos graves problemas do filme), mas a fraqueza do roteiro (e da atriz Megan
Fox) compromete o resultado.
Entretanto, como costuma ocorrer com os filmes
de Michael Bay, as características negativas do filme não impediram-no de ter
uma boa bilheteria, garantindo uma continuação, “Tartarugas Ninja-Fora das
Sombras”.
Numa manobra narrativa muito parecida com o que
Michael Bay realizou em sua franquia dos “Transformers”, ele usa o segundo
filme para trazer uma nova ameaça, à qual irá confrontar o quarteto de
tartarugas (bem como suas distintas personalidades) com um dilema: Se expor ou
não aos olhos dos nova-iorquinos, para que não atuem mais às escondidas, como é
sugerido pelo “fora das sombras” do título.
Este segundo filme beneficiou-se de uma série
de circunstâncias favoráveis. A principal delas: Michael Bay e os demais
produtores aparentemente deram ouvidos às críticas do filme anterior, e
removeram a pesada direção de Liebesman.
O novo diretor, o jovem Dave Green, trouxe
muitos elementos oriundos da série animada de TV dos anos 1990, incluindo os
vilões Krang (um alienígena interdimensional rosado e gosmento que quer dominar
o mundo), Rocksteady e Bee-Boop (um rinoceronte e um javali humanóides a
exemplo das próprias tartarugas ninja), além de finalmente caracterizar o
Destruidor da maneira certa, como um mestre ninja maligno.
No elenco, além do retorno de Megan Fox (aqui
mais à vontade que no filme anterior, e nitidamente menos influente na trama) e
do engraçado Will Arnett, temos a adição do novo Casey Jones (Stephen Amell, da
série “Arrow”, constrangedoramente falho em sua tentativa de agregar humor ao
personagem) e da excelente Laura Linney, como uma investigadora policial.
As fraquezas ainda estão lá, e são todas as
mesmas (cenas de ação barulhentas e excessivas de uma pirotecnia desmedida em
detrimento à história e aos personagens, tratados de maneira rasa), mas o novo
filme se aproxima muito mais da essência de seus personagens, e daquilo que fez
deles uma diversão deliciosa na infância dos que são hoje a platéia adulta.
PS: Uma das cenas deletadas do filme (e que
pode ser conferida nos extras do DVD), mostra uma participação especial da
intérprete original de April O’ Neil, Judith Hoag, numa breve cena com Megan
Fox. Ainda muito bonita, ela consegue ter mais a ver com a personagem em dois
minutos de aparição do que Megan Fox em dois filmes inteiros!
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