terça-feira, 1 de novembro de 2016

As Tartarugas Ninja no Cinema

A recepção positiva que esses personagens receberam nas suas mais variadas aparições na mídia e na cultura pop é bastante indicativa do quão populares eles são junto ao público.
Criados no final da década de 1980 por Kevin Eastman e Peter Laird (produtores da revista “Heavy Metal”) para uma linha de quadrinhos alternativos com ligeira e debochada influência nos heróis da Marvel, as Tartarugas Ninja logo passaram a fazer sucesso ganhando, nos anos 1990, um desenho animado que as introduziu no subconsciente infantil de toda uma geração.
Em algum momento desse sucesso todo, foi realizado também um filme.
Dirigido pelo mesmo Steve Barron que realizou algumas produções cult dos anos 1980 (como o açucarado “Amores Eletrônicos”), o primeiro longa do quarteto de tartarugas tinha a bela atriz Judith Hoag como a repórter April O’ Neil –a melhor amiga humana das tartarugas –e Elias Koteas (de “Além da Linha Vermelha” e “Crash-Estranhos Prazeres”) como o vigilante Casey Jones. Para concretizar a tarefa inédita de materializar os quatro tartarugas ninja com realismo em um filme, a produção trazia uma hoje datada técnica de animatrônica, com atores usando imensas máscaras dos personagens nas quais a boca e os olhos se movimentavam. Nada disso impediu que a molecada da época ficasse fascinada com o filme e o transformasse num sucesso de bilheteria. Hoje, ainda dotado daquele charme nostálgico oitentista, ele é lembrado como mais um dos muitos “clássicos da sessão da tarde”.

Como era habitual ocorrer na época, a indústria não tinha uma ideia exata de como trabalhar os ingredientes de seu próprio produto e o filme ganhou anos depois uma continuação, em tudo e por tudo inferior: “As Tartarugas Ninja-O Segredo do Ooze”, dirigido pelo operário padrão de filmes B, Michal Pressman, no qual um dos destaques era uma ponta (vergonhosa como sempre!) do infame popstar Vanilla Ice.
O grupo formado por Leonardo, Michelangelo, Rafael e Donatelo defrontava-se, mais uma vez com o ninja Destruidor (num gancho que ligava mal e porcamente este com o filme original), e com as consequências de uma substância estranha -o Ooze! -capaz de criar humanóides: Este filme trás, portanto, a primeira tentativa em trazer alguns personagens da série animada de TV (ou pelo menos, pressupõe-se que aqueles capangas que aparecem tinham intenção de ser Rocksteady e Bee-Bop, já que a tosqueira absoluta que predomina na produção deixa as coisas meio... indistinguíveis!).
Por alguma razão, Judith Hoag não voltou para interpretar April (e penso que ela estava certíssima), e quem assumiu seu lugar para pagar esse mico foi a bela Paige Turco.

À essa continuação seguiu-se um filme para a TV ainda mais inferior (onde os personagens voltavam no tempo e viravam samurais!!!), e depois dele uma paupérrima série live-action, já no fim dos anos 1990. As Tartarugas Ninja começavam a cair numa certa obscuridade.
Na década que se seguiu muitas foram as tentativas de restabelecer as Tartarugas Ninja com o mesmo apelo de público avassalador que eles tiveram nos anos 1980, inclusive com uma ótima animação para cinema lançada em 2007, dirigida por Kevin Munroe.

Nela, Rafael, Michelangelo, Leonardo e Donatelo, o quarteto de tartarugas ninja mutantes que lutam contra o crime, retornava num longa-metragem de computação gráfica, que restaurava um pouco do clima violento da HQ underground da qual se originaram, deixando de lado o tom infantilizado que foi banalizando cada vez mais os personagens na sua série de animação convencional da década anterior. O resultado, embora não tenha a perfeição de um padrão "Disney", por exemplo, foi muito bom.
Uma pena não ter rendido o êxito esperado.

Em 2014, contudo, foi a vez de arriscar um novo filme live-action para cinema. O diretor era o jovem Jonathan Liebesman (do frenético e ensurdecedor “Invasão do Mundo-Batalha de Los Angeles”), mas controle técnico e criativo, em todos os aspectos, estava com seu produtor, o famigerado Michael Bay. É muito do seu estilo explosivo, alucinado e espalhafatoso que se vê em cena refletindo-se em escolhas um pouco equivocadas como a escalação bastante inadequada de Megan Fox (jovem atriz assídua em trabalhos de Michael Bay, como “Transformers”) para o papel de April O’ Neil –ainda que ela seja linda! –e na caracterização exageradamente anabolizada das tartarugas (que agora são enormes e brutamontes!). A grande novidade, em si, era o emprego de efeitos especiais de captura de performance, tal e qual eles eram utilizados, por exemplo, em “Planeta dos Maçados-A Origem”. A técnica, originada no épico “Avatar” de James Cameron, permitia que se criassem seres inumanos com as mesmas expressividades de seus intérpretes humanos, e isso caia muito bem num projeto envolvendo os tartarugas.
 A trama, como sempre, não mudou muito: A repórter April O' Neil investiga acontecimentos estranhos envolvendo vigilantes misteriosos que têm combatido a principal quadrilha criminosa de Nova York: A Gangue do Pé. Esses vigilantes, ela descobre, são tartarugas, e são ninjas! Criadas nos esgotos por um acidente químico, essas tartarugas (Leonardo, Rafael, Michelangelo e Donatelo) foram treinadas pelo rato (e mestre em artes marciais) Splinter, e preparam-se para o seu maior desafio: enfrentar o perigoso Destruidor (convertido do que deveria ser um ninja, numa espécie de vilão robotizado, no que deve ser o maior erro deste filme!), líder absoluto de toda a Gangue do Pé, que guarda planos terríveis envolvendo NY.
Não há como negar que a tecnologia de efeitos especiais aperfeiçoa e amplia as cenas de ação (embora seu exagero seja também um dos graves problemas do filme), mas a fraqueza do roteiro (e da atriz Megan Fox) compromete o resultado.
Entretanto, como costuma ocorrer com os filmes de Michael Bay, as características negativas do filme não impediram-no de ter uma boa bilheteria, garantindo uma continuação, “Tartarugas Ninja-Fora das Sombras”.

Numa manobra narrativa muito parecida com o que Michael Bay realizou em sua franquia dos “Transformers”, ele usa o segundo filme para trazer uma nova ameaça, à qual irá confrontar o quarteto de tartarugas (bem como suas distintas personalidades) com um dilema: Se expor ou não aos olhos dos nova-iorquinos, para que não atuem mais às escondidas, como é sugerido pelo “fora das sombras” do título.
Este segundo filme beneficiou-se de uma série de circunstâncias favoráveis. A principal delas: Michael Bay e os demais produtores aparentemente deram ouvidos às críticas do filme anterior, e removeram a pesada direção de Liebesman.
O novo diretor, o jovem Dave Green, trouxe muitos elementos oriundos da série animada de TV dos anos 1990, incluindo os vilões Krang (um alienígena interdimensional rosado e gosmento que quer dominar o mundo), Rocksteady e Bee-Boop (um rinoceronte e um javali humanóides a exemplo das próprias tartarugas ninja), além de finalmente caracterizar o Destruidor da maneira certa, como um mestre ninja maligno.
No elenco, além do retorno de Megan Fox (aqui mais à vontade que no filme anterior, e nitidamente menos influente na trama) e do engraçado Will Arnett, temos a adição do novo Casey Jones (Stephen Amell, da série “Arrow”, constrangedoramente falho em sua tentativa de agregar humor ao personagem) e da excelente Laura Linney, como uma investigadora policial.
As fraquezas ainda estão lá, e são todas as mesmas (cenas de ação barulhentas e excessivas de uma pirotecnia desmedida em detrimento à história e aos personagens, tratados de maneira rasa), mas o novo filme se aproxima muito mais da essência de seus personagens, e daquilo que fez deles uma diversão deliciosa na infância dos que são hoje a platéia adulta.

PS: Uma das cenas deletadas do filme (e que pode ser conferida nos extras do DVD), mostra uma participação especial da intérprete original de April O’ Neil, Judith Hoag, numa breve cena com Megan Fox. Ainda muito bonita, ela consegue ter mais a ver com a personagem em dois minutos de aparição do que Megan Fox em dois filmes inteiros!

Nenhum comentário:

Postar um comentário