Há uma harmonia cíclica em todas as obras de
Hayao Miyazaki. Uma série de elementos que as entrelaçam de forma sutil e
poética uma a uma.
Tomemos o maravilhoso “Porco Rosso” para
analisarmos este fato.
De início, já percebemos a paixão de Miyazaki
pelas máquinas voadoras –presentes também em “Laputa-O Castelo No Céu” e
tornada absolutamente explícita em sua despedida do cinema, “Vidas Ao Vento”
–ao relatar as aventuras do audaz piloto Marco Porcellino, num mundo
alternativo da década de 1930, onde a tecnologia da aviação parece prevalecer.
Porcellino é um ser humano transformado em
porco por uma bruxa –como também Miyazaki levou a fazer acontecer, em diferente
contexto, com os pais da jovem protagonista em “A Viagem de Chihiro” –todavia,
tal maldição não o impede de ter grande sucesso em seus constantes confrontos
contra piratas aéreos (também personagens que remetem bastante à “Laputa”).
As derrotas sucessivas levam os piratas à
unirem-se para contratar um piloto americano, igualmente habilidoso, que
ofereça ao Porco Rosso algo que eles não conseguem: Um antagonismo à altura,
talvez até mesmo fatal!
Não é, portanto, na tentativa de livrar-se da
maldição que o transformou, que se baseia a trama de “Porco Rosso” –ele mal
parece se importar com esse detalhe, parecendo ter à ele se adaptado!
–preferindo mostrar, em vez disso, um recorte de sua existência como ela é.
Postura semelhante à assumida por Miyazaki no belíssimo “O Castelo Animado”,
sobre uma jovem transformada em idosa por uma bruxa, mas cujo andamento da
trama leva a protagonista (e os expectadores) à deixarem de lado esse detalhe.
Importa muito à ele, aquela
quase indefinível sensação de liberdade, experimentada pela decisão audaz de se
desprender das amarras cotidianas, e que parece impulsionar seus personagens,
quase sempre em imprevisíveis aventuras nas nuvens, por vezes materializada em
cenas nas quais seus heróis (e a ‘câmera’ junto com eles) pairam em pleno ar
absolutamente livres no firmamento, como se pode conferir também em “Nausicaa
do Vale do Vento”, em “O Serviço de Entregas da Kiki”, e em muitas das obras já
citadas.
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