quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Fúria Selvagem

Dizer que “O Regresso”, de Alejandro Gonzales Iñarritu é uma refilmagem deste filme é inapropriado e injusto: Ambos são baseados na mesma (e inacreditável) história real, mas seguem rumos diferentes, com propostas diferentes.
Feito em 1971, “Fúria Selvagem” passa longe de possuir tantas cenas antológicas quanto a obra de Iñarritu, nem tampouco parece querer submeter o expectador à uma experiência cinematográfica tão intensa –o diretor Richard C. Sarafian (que depois faria outro excelente faroeste, “Amor Feito de Ódio”) prefere relatar os percalços de seu protagonista com mais sutileza e, diga-mos, serenidade.
O grande Richard Harris interpreta aqui Zack Bass (o personagem chama-se Hugh Glass no filme com Leonardo Dicaprio) um guia de uma expedição de caçadores e negociadores de pele nos confins do Alasca. Durante o trajeto de volta, Bass é atacado por um urso, que o deixa à beira da morte, e seus companheiros, com um dilema em mãos: Tentar salvá-lo, comprometendo a possibilidade de sobrevivência de todos (existem índios provavelmente hostis nas redondezas) ou deixá-lo para morrer.
A decisão do Capitão Henry (o diretor John Huston numa de suas ocasionais aparições como ator) é seguir em frente, deixando-o com dois homens para vigiá-lo, que não tardam a abandoná-lo.
Mas, Bass milagrosamente não morre, recuperando-se e tentando alcançar a expedição, a medida que breves recordações de sua vida vão esclarecendo o homem de existência sofrida que ele era.

Se “O Regresso” possuia uma clara trama de vingança a nortear sua narrativa, “Fúria Selvagem” opta por deixar isso um pouco de lado –embora haja uma constante sugestão disso ao longo da duração –tornando este quase um conto de redenção (ou de penitência, quem sabe), e transformando a jornada do protagonista numa espécie de retorno espiritual à civilização, quando muito fazendo com que Zack Bass apareça assim como uma lembrança quase espectral para os companheiros que o deixaram, e fique implícito um possível conflito quando ele retornar. A ausência de um antagonista mais sólido como era o Fitzpatrick de Tom Hardy no filme de 2015 deixa o roteiro ligeiramente injustificado, e o aproxima mais de “Um Homem Chamado Cavalo”, realizado um ano antes e estrelado pelo próprio Richard Harris; são similares, por exemplo, o modo como o personagem se relaciona com os indígenas e o fato deles ganharem seu respeito, assim como a postura ecológica do filme.

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