sábado, 19 de novembro de 2016

Princesa Aurora

Mais um belo e instigante trabalho vindo da Coréia do Sul, todo ele imbuído de reviravoltas macabras, de um aspecto ambíguo que reveste o psicológico de seus personagens –principais e coadjuvantes –e de uma percepção humana que vai de encontro ao idealizado e simplificado cinema comercial norte-americano ao qual estamos acostumados.
“Princesa Aurora” não chega ao nível de brilhantismo dos trabalhos de Chon Wook Park ou de Bong Joo Ho, mas ainda é um exemplar inventivo daquela palpitante escola de cinema.
Ele parte de uma investigação de homicídio, na qual já sabemos de antemão quem é o assassino: O diretor nos apresenta de imediato a personagem que mata (de maneira quase indiscriminada) uma mulher em pleno banheiro feminino de um shopping center.
Sem recorrer ao mistério de sua identidade, tudo o quê nos resta, como expectadores, é indagar os propósitos pelo qual aquela jovem bonita, bem-sucedida e economicamente estável vai fazendo aquela trilha de cadáveres, todos assassinatos planejados e executados com pormenores que normalmente só os sul-coreanos são capazes de mostrar com tanta perícia. A narrativa é hábil em escoder também, durante o máximo de tempo possível, um dos detalhes mais pertinentes do público: O de que a jovem assassina é ex-esposa do policial designado para a investigação.
Pouco a pouco, o filme do diretor Bang Eun-Jin, que começou com arquétipos do gênero policial norte-americano vai adotando idiossincrasias próprias, bem mais sul-coreanas, conforme vai estabelecendo e revelando as razões de cada um dos personagens, descortinando um história que, na tradição do magnífico cinema executado por lá, guarda poderosas camadas de fatalismo, crueldade e contradição humana.
Um corajoso ato de bravura cinematográfica que jamais seria concebido, nesses moldes, nos EUA, e que só não é mais espetacular porque a comparação com as obras ainda mais sensacionais vindas de seu país de origem lhe é desfavorável.

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