Mais um belo e instigante trabalho vindo da
Coréia do Sul, todo ele imbuído de reviravoltas macabras, de um aspecto ambíguo
que reveste o psicológico de seus personagens –principais e coadjuvantes –e de
uma percepção humana que vai de encontro ao idealizado e simplificado cinema
comercial norte-americano ao qual estamos acostumados.
“Princesa Aurora” não chega ao nível de
brilhantismo dos trabalhos de Chon Wook Park ou de Bong Joo Ho, mas ainda é um
exemplar inventivo daquela palpitante escola de cinema.
Ele parte de uma investigação de homicídio, na
qual já sabemos de antemão quem é o assassino: O diretor nos apresenta de
imediato a personagem que mata (de maneira quase indiscriminada) uma mulher em
pleno banheiro feminino de um shopping center.
Sem recorrer ao mistério de sua identidade,
tudo o quê nos resta, como expectadores, é indagar os propósitos pelo qual
aquela jovem bonita, bem-sucedida e economicamente estável vai fazendo aquela
trilha de cadáveres, todos assassinatos planejados e executados com pormenores
que normalmente só os sul-coreanos são capazes de mostrar com tanta perícia. A
narrativa é hábil em escoder também, durante o máximo de tempo possível, um dos
detalhes mais pertinentes do público: O de que a jovem assassina é ex-esposa do
policial designado para a investigação.
Pouco a pouco, o filme do diretor Bang Eun-Jin,
que começou com arquétipos do gênero policial norte-americano vai adotando
idiossincrasias próprias, bem mais sul-coreanas, conforme vai estabelecendo e
revelando as razões de cada um dos personagens, descortinando um história que,
na tradição do magnífico cinema executado por lá, guarda poderosas camadas de
fatalismo, crueldade e contradição humana.
Um corajoso ato de bravura
cinematográfica que jamais seria concebido, nesses moldes, nos EUA, e que só
não é mais espetacular porque a comparação com as obras ainda mais sensacionais
vindas de seu país de origem lhe é desfavorável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário