Trabalho magnífico do hercúleo artesão William
Wyller –que nos deu o clássico “Ben-Hur” –esta inebriante comédia romântica é
uma das mais felizes reuniões de talentos que o cinema já testemunhou: Uma Audrey
Hepburn primorosa (e revelada neste filme!) dá, aqui, a personificação
perfeita, vibrante e cativante da encantadora realeza; fazendo par com ela, o
sempre competente Gregory Peck, dá sua contribuição à excelência da produção
impondo sua presença de respeito à toda prova, ainda que isso não fique no
caminho do descontraído e contagiante bom humor do filme; além deles, há o roteiro,
assinado pelo inteligente e politizado Dalton Trumbo, que de fato torna este
filme genial, começando a história como um conto de fadas inverso.
A princesa Ann (Hepburn, numa atuação
inigualável, plenamente merecedora do Oscar de Melhor Atriz que conquistou), em
uma breve visita a Roma, se ressente por sua condição de princesa; os deveres e
imposições protocolares a impedem de aproveitar os prazeres mais corriqueiros
da cidade. Para tanto, ela deixa o palácio em que está hospedada a fim de dar
um passeio, mas termina cruzando o caminho de Joe Bradley (Peck, carismático,
viril, e no tom absolutamente certo), um correspondente norte-americano na
Itália.
Astuto e sagaz, Bradley sabe quem ela é, mas a
princesa pensa ser capaz de convencê-lo de que se trata de uma simples moça.
Mantendo uma farsa mútua, os dois então resolvem fazer um tour juntos por Roma,
levando o fotógrafo Irving Radovich à tiracolo (Eddie Albert, outra presença
fantástica) –e vem bem a calhar, para Bradley, que ele tenha uma câmera
fotográfica sempre por perto para registrar as peripécias da princesa!
Uma sucessão prazerosa e enternecedora de cenas
sensacionais se segue: Bradley e a princesa andando num monociclo; a mão que
desaparece na bocarra de uma fonte; a visita à lanchonete que termina em
bagunça; tudo conduzido com uma leveza que não exclui a excelência cinematográfica
à toda prova.
Tal e qual é inevitável à tramas dessa
natureza, Bradley e a princesa percebem surgir entre si uma paixão que
invariavelmente não poderá ser duradoura –mas, até lá, a condução dinâmica de
Wyller e seu terno olhar para com a inescapável química do par central
transformará a platéia em torcida para esse amor.
É em sua seqüência final,
contudo, que o genial roteiro de Trumbo dá o grande xeque-mate no expectador ao
subverter a expectativa por um final feliz (ou, ao menos, um final em que
presume-se que o casal central terminará junto) entregando uma cena onde ele ao
mesmo tempo coloca brilhantemente todas as repercussões realistas inerentes a
uma situação assim, amarra magnificamente todas as pontas soltas da narrativa e
ainda mantém o filme leve e agradável o suficiente para que consigamos terminá-lo
com uma sensação agridoce, acompanhada da certeza de termos visto uma das
melhores (senão a melhor) comédia romântica do cinema.
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