quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Um Amor Tão Frágil

Para comemorar o recente Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama conquistado pela extraordinária Isabelle Huppert, nada como regressar ao começo, e conferir um dos trabalhos que a revelou para o mundo.
Ela, de fato, deveria contar uns vinte aninhos quando incorporou a protagonista Beatrice, em 1977, neste trabalho do veterano diretor Claude Goretta.
Beatrice (chamada Pomme, por sua colega) trabalha num salão de beleza e, ao contrário da amiga é introvertida, tímida e silenciosa. Uma personagem que não notaríamos, exceto pelo fato da câmera de Goretta estar, o tempo todo centrado nela.
Pouco a pouco, começa a ficar claro o porque: Na interpretação linda e cheia de pormenores de Isabelle Huppert, Beatrice é uma personagem feita de profundezas insondáveis, característica que será o pólo gravitacional que trará o personagem de François (Yves Beneyton) para sua vida, e mais tarde, paradoxalmente, o afastará dela também.
Vindo de uma família de classe e instrução mais alta que a de Beatrice, logo François se vê ressentido por sua expectativa inicial que nutre dela não ser correspondida, quando por fim os dois decidem morar juntos como um casal. A jovem não diz o que sente. Não expressa suas opiniões. E pouco reage diante de suas insistências e fazê-la mudar.
É como se ele não quisesse que ela continuasse a ser a jovem por quem ele se apaixonou: Ela deve evoluir, para que continue a despertar seu interesse paulatinamente, e o rompimento para com ela surge a partir desse viés de egocentrismo.
Ao fim, ele perceberá o erro, e tentará gaiatamente voltar atrás, com resultados irrisórios.
Narrado com uma peculiaridade bastante francesa –e que remete um sentimento muito próximo da nouvelle vague, um movimento famoso, porém relativamente recente na época –o diretor Goretta reforça seu fascínio pelos aspectos banais que contam a história, visual classe média europeu, enquadramentos de austero minimalismo e ocasionais rompantes que lembram Truffaut, mas nunca tiram seu filme do ritmo pausado que ele lhe impõe.
Tudo é uma moldura para uma atriz fascinante como Isabelle Huppert, que monopoliza nossa atenção, sem fazer esforço algum –ela já era sensacional, desde o começo!

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