Eu já mencionei, algumas vezes, a respeito dos
filmes inclusos naquela famigerada lista de “filmes mais perturbadores do
cinema”, como “Irreversível”, “Audition”, “Eraserhead”, “Ichi-O Assassino” e “Saló-Os
120 Dias de Sodoma”.
Chegou a hora de falar daquele que, em minha
humilde opinião, ocupa o primeiro lugar nessa lista: O artístico, simbólico,
atroz, experimental e horripilante “Begotten”.
Minha relação com esse filme começou hesitante.
Ouvia falar dele aqui e ali, onde sempre comentavam sobre as idéias concebidas
pelo diretor E. Elias Merhige (que depois realizaria os mais convencionais “A
Sombra do Vampiro” e “Suspeito Zero”), me chamando a atenção o fato de que
todos sempre exprimiam uma espécie de recomendação muito parecida –Assista por
sua própria conta e risco!
Eis que depois de um tempo eu descobri que,
embora ele jamais tivesse sido e provavelmente jamais venha a ser lançado em
DVD (pois é bastante improvável que uma distribuidora tenha a audácia para se atrever
a tal coisa), “Begotten” estava disponível, na íntegra, no youtube.
O quê eu vi, naqueles setenta e dois minutos, é
um filme capaz de deixar um ser humano embasbacado e desestabilizado por
semanas a fio.
“Begotten”, como não poderia deixar de ser, é
aquele tipo de filme que permanece com você, impregnado na sua memória, como
algo que te assombrará por um bom tempo.
Em sua trama (se é que a narrativa composta
pelas imagens permite o uso dessa palavra), tudo o que vemos é, numa linguagem
quase de filme mudo (em preto e branco, com ausência de diálogos), uma tapera
caindo aos pedaços numa floresta. Dentro dela, o que parece ser um velho
envolto em túnicas brancas (Deus?) mexe em uma navalha. Logo, ele a usará para
abrir a própria barriga (!) de onde, após uma sucessão de sangramentos,
auto-mutilações e auto-estripações que parecerão não ter fim, sairá uma mulher
(A Terra?), que na seqüência irá se fecundar com o sêmen do próprio velho (!).
A mulher tem um filho (A Humanidade?), mais
tarde adulto num deserto, onde convulsões parecem afligir seu corpo. Ele é
encontrado por uma horda que o submetem a torturas físicas infindáveis: Ele é
mutilado, machucado, humilhado e estuprado.
A mulher que o gerou reaparece para encontrá-lo
milagrosamente reparado –e nenhuma dessas manobras narrativas ganha qualquer
esclarecimento lúcido. Depois, porém, é a própria mulher que é encontrada pela
horda anterior, e por todos os seus integrantes, ela é longa e
insuportavelmente estuprada. Mãe e filho são esquartejados e enterrados e,
desses restos mortais, nasce assim uma floresta (!).
Não obstante o teor profundamente chocante que
acompanha todas as suas cenas, “Begotten” possui um subtexto pertinente e
relevante acerca da atroz metodologia da religião e a crueldade natural
embutida nos preceitos da crença. O próprio fato da imagem do filme ser
granulada e preto e branco, fazendo-o parecer muito mais antigo do que de fato é
(data de 1991), remete aos elementos primordiais de luz e trevas.
Mas, você não irá pensar nisso depois de assisti-lo
(pelo menos, não durante um bom tempo...), tudo o que ficará em sua mente será
o choque proporcionado por momentos tão explícitos quanto assustadores.
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