Um dos mais interessantes filmes do diretor
Lawrence Kasdan (que a despeito de ter entregado filmes ora excelentes, ora
irregulares ao longo da carreira sempre foi mais lembrado como o roteirista de
“O Império Contra-Ataca”) onde se percebe sua inclinação para o cinema europeu,
de tintas mais intimistas.
O termo “turista acidental” define o protagonista
Macon Leary (William Hurt, primoroso) das mais variadas formas: Metódico e
introspectivo, ele é autor de uma série de guias turísticos para executivos que
não gostam de viajar (e que, à propósito, leva esse mesmo título!). Para tanto,
ele próprio tem de encarar contínuas viagens a fim de escrever seus livros.
Macon é, ele mesmo, um “turista acidental”
através da vida: Os relatos que sua voz em off faz dos eventos que com ele
acontecem não diferem em nada do tom melancólico, algo rabugento, com o qual se
dá a narrativa de seus livros.
Talvez tenha sido essa postura que levou sua
esposa Sarah (Kathleen Turner, que já havia feito “Corpos Ardentes” com o
diretor e o ator) a pedir o divórcio depois da morte do filho, levando Macon a
ir morar com seus igualmente metódicos irmãos.
Por acaso, ele acaba conhecendo Muriel (Geena
Davis, esfuziante), uma extrovertida treinadora de cães com quem –para a
surpresa do próprio Macon –acaba se relacionando.
Todos esses acontecimentos, de caráter
irrisório, ganham um inesperado e adorável tom de enaltecimento na narrativa
agridoce, de ritmo muito particular, estabelecida por Kasdan.
A analogia entre o ato de
viajar e o ato de viver ganha contornos fascinantes e envolventes graças a uma
reunião de talentos em absoluto estado de graça: Não só o roteiro e a direção
de Kasdan está prodigiosos, como ele também deve muito do seu brilhante
resultado ao elenco, onde se destacam Geena Davis, por este trabalho, vencedora
do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, e William Hurt, numa composição criteriosa,
complexa e destemida.
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