Os estúdios Disney buscam já há algum tempo uma
adaptação aos conceitos modernos. Prova disso, é o protagonismo freqüente que
as personagens femininas têm recebido para além das histórias de princesas –como
pode ser conferido em filmes como os recentes “Star Wars” (que queira ou não
agora pertence à Disney) ou nas próprias animações como “Divertidamente” ou “Zootopia”
–e mesmo nas próprias histórias de princesas, onde elas agora têm voz ativa,
independência e, não raro, até prescindem de um príncipe encantado, como nos
exemplos mais recentes de “Valente” e “Frozen”.
É certamente uma evolução no modo com que as
protagonistas femininas são percebidas, inclusive a nível social, e as coisas seguem
nesse compasso em “Moana-Um Mar de Aventuras”.
Embora ele não seja tão audacioso quanto “Zootopia”
(para quem, diga-se, ele perdeu o Oscar 2017 de Melhor Longa Metragem de
Animação), nem tão original quanto “Divertidamente”, ele dá continuidade aos
elementos que tanto fascinaram público e crítica em “Frozen” –uma sensacional
valorização (e humanização) de sua heroína –ao mesmo tempo que estabelece com
ele uma série de similaridades de natureza quase assimétrica (falarei mais à
frente), enquanto vale-se de muita desenvoltura para preservar os fatores
cânones dos estúdios Disney (sim, este filme lança mão de músicas continuamente
cantadas pelos personagens).
Mas, isso soa demasiado retórico.
Vamos aos fatos: Membro de uma tribo maori (os
nativos do Havaí) que acostumou-se a viver da natureza sem nunca avançar para o
mar além dos recifes, a jovem Moana herdará, de seu pai, o fardo da liderança,
cujo peso ela já começa a experimentar quando o peixe do mar e o coco das
palmeiras começa e se escassear no quê parece ser um infortúnio promovido pelos
deuses.
Assim, se “Frozen” é sobre o inverno, “Moana” é
sobre o verão; se “Frozen” tem montanhas com cumes de neve, e uma ambientação
nórdica “Moana” tem praias ensolaradas celebrando a cultura dos povos samoanos;
são assim equivalentes no exato oposto com que são concebidos –e esse fator
surge em alguns pequenos detalhes escondidos nas cenas.
Contrariando os apelos de seu pai, e de certa
forma correspondendo um anseio que tem desde que era pequena, Moana decide pegar
uma canoa e navegar para além mar. Sua missão é encontrar o semi-deus Maui e,
com o auxílio dele, encontrar a deusa Te Fiti, de quem outrora Maui tirou o
coração –uma preciosa pedra esmeralda –e que, desde então, tornou-se uma
entidade de rancor e periculosidade, responsável pelos males que se alastram.
Embora a jornada de Moana siga uma estrutura
bastante familiar no que tange a histórias de aventura e a jornada do herói –o quê
representa um passo atrás em relação aos quase inovadores “Zootopia”, “Operação
Big Hero” e “Detona Ralph” –o tratamento dado aos personagens (em especial, a
própria Moana e Maui) transborda espirituosidade, inconformismo e descontração:
Moana é uma personagem carismática, obstinada e forte, Maui equilibra bem as
características egocêntricas, humorísticas, dramáticas e sombrias sem cair no
clichê que qualquer uma dessas facetas poderia criar, e a dinâmica entre ambos
jamais adquire ares óbvios como o de um romance, ou um antagonismo.
Nesse sentido –assim como
no de entregar uma animação de primor técnico absolutamente inquestionável
(ainda que não fosse necessário mencionar) –a Disney está de parabéns.
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