“Kill Bin Laden” era um projeto iniciado pela
diretora Kathryn Bigelow quando o famigerado terrorista ainda era um alvo
escorregadio para o FBI. Recém-saída da consagração de “Guerra Ao Terror”, ela
retomava a parceria com o premiado roteirista Mark Boal para lançar um olhar
algo irônico sobre uma missão fracassada que visava a morte do procurado
terrorista.
O elenco contava com Joel Edgerton e Chris
Pratt –uns anos antes de virar astro com “Guardiões da Galáxia” e “Jurassic
World” –e deveria ter uma pegada muito parecida com “Guerra Ao Terror” onde as
relações entre os soldados eram esmiuçadas em meio à cenas de ação e de tensão.
Em algum momento durante a gestação do projeto
porém, um lance inesperado do destino interveio: A Casa Branca anunciou a morte
de Osama Bin Laden pelas mãos do Team 6 numa bem-sucedida incursão em uma residência
do Paquistão.
De uma hora para outra, o filme de Bigelow se
tornava inesperadamente datado. A saída: Valer-se do orçamento, das cenas já
filmadas, do trabalho de pré-produção em andamento e criar um filme
praticamente novo, desta vez, bem mais ambicioso (como toca a uma diretora
ganhadora do Oscar), que envolvia a caçada à Bin Laden e culminava em sua morte
ocorrida em maio de 2011.
Dessa forma, “Zero Dark Thirty” –o novo título
da produção –deixa de lado os soldados liderados por Edgerton e Pratt (eles
agora interpretam o Team 6 e aparecem apenas na explosiva meia hora final do
filme) e se concentra numa das analistas recrutadas pela CIA, a jovem agente
Maya –vivida com espetacular vigor por Jessica Chastain –que, após os
estarrecedores atentados de 11 de setembro de 2001, e o início da árdua
operação de rastrear e eliminar o autor dos ataques, o líder terrorista Osama
Bin Laden, toma para si a missão de encontrá-lo custe o que custar.
Ao longo de uma década, a obstinação dela,
somado aos esforços de outros personagens que vão e vêm com o passar dos anos
(e que expõe o sensacional elenco que Bigelow conseguiu atrair para sua produção,
como Jason Clarke, Mark Strong, Jennifer Ehle, Edgar Ramirez, Kyle Chandler,
Frank Grillo e James Gandolfini), vão levar as tensas investigações à uma casa
no centro de Abbottabad, no Paquistão onde o terrorista finalmente é morto.
O roteiro de Boal surpreende por manter a excelência
mesmo em face da alteração de sua proposta e, mais ainda, pela magnífica maneira
com que parece abordar de forma precisa e minuciosa os fatos supostamente reais
–que, mesmo correspondentes à realidade jamais poderiam ser comprovados pelo
governo –onde executa uma reconstituição primorosa e vigorosa da extensiva caçada
a Bin Laden, pontuada por riquíssimos detalhes logísticos, técnicos,
circunstanciais e humanos.
Apagando quaisquer dúvidas acerca de seu
talento, a diretora Kathryn Bigelow sobe um degrau além de seu "Guerra Ao
Terror" entregando um trabalho ainda mais adulto e austero, orquestrado
com perícia e precisão insuspeitas.
E abrilhantado, ainda por
cima, por uma forte e convicta atuação de Jessica Chastain: Só Deus sabe o que
levou-a a perder o Oscar de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence em seu “O Lado
Bom da Vida”!
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