Um dos filmes a definir o cinema enquanto
clássico absoluto, este “Lês 400 Coups”, de François Truffaut, é também um dos
filmes a definir a própria Nouvelle Vague Francesa, o movimento autoral que o
originou.
Todos os princípios básicos dos críticos da
Cahiers du Cinéma tornados cineastas está lá: As filmagens retiradas da zona de
conforto dos estúdios e trazidas para a improvisação e a imprevisibilidade das
ruas; os membros do elenco não profissional em interpretações carregadas de
incidentes e reações que determinam as cenas.
Em meio a tudo isso, há ainda uma condução
cheia de primor da parte de Truffaut, de compreensão do cinema que rege e de
uma apura percepção dos elementos que moldam um filme verdadeiramente
antológico.
Antoine Doinel (vivido por Jean-Pierre Léaud) é
um jovem à beira da delinqüência que vive a perambular (e arrumar encrenca)
pelas ruas de Paris. Em casa, sua mãe o negligencia em favor do namorado
indiferente e rude, e dessa frustração, Antoine tira o ímpeto para desafiar professores
e outras figuras de autoridade; tal postura logo o conduz ao reformatório, onde
os atritos com as tentativas de regulamentação voltam a acontecer.
Autobiográfico, Truffaut observa nos detalhes
as entrelinhas emocionais do filme –e a Nouvelle Vague soube usar, em geral,
essa atenção aos detalhes –como na cena carregada de expressividade em que
Antoine é interrogado por um professor.
Também plena de expressão é a seqüência final,
quando Antoine busca fugir mais um vez –percebe-se então que ele passou o filme
todo fugindo –e sua fuga o conduz até um ponto em que não mais poderia ir: As
águas de uma praia solitária.
Em busca, talvez, de uma
resposta, o personagem encara a câmera com um semblante de promessa e
perplexidade –a vida é, afinal, uma eterna tentativa de compreensão.
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