segunda-feira, 29 de maio de 2017

Krull

Há várias pulsões comportamentais inerentes da indústria –e do modo lúdico com que a sociedade enxergava o embate do bem contra o mal nos ainda ingênuos anos 1980 –em “Krull”.
Existe o fantasma onipresente de “Star Wars” que, logo depois do sucesso arrebatador, influenciou uma infinidade de produtos do gênero naquela década, da qual esta inusitada fantasia de aventura “extraterrestre medieval” é um de seus mais desiguais exemplares.
Existe também uma postura bastante explícita que compartilha uma visão de rebeldia jovem para com as normas vigentes contra o totalitarismo –traduzida, sobretudo, no fato de que os exércitos malignos usam armaduras homogêneas e armas de raios, e combatem os insurgentes representantes do bem que aparecem caracterizados como camponeses armados de porretes, bastões, arcos de madeira e outras peças arcaicas, que remetem também um combate de indivíduos que vivem da natureza contra a sombra opressora da indústria.
Todas mensagens subliminares que a platéia cativa dos anos 1980 não tinha ainda o hábito de analisar e interpretar, e por isso mesmo, não sabia dizer ao certo qual era o fascínio tão irreprimível que levava uma produção de aspectos B, ao mesmo tempo precária e dona de algum charme, a cair nas graças de seu público.
“Krull” dá nome a um planeta nos confins da galáxia, onde uma antiga disputa entre dois povos é colocada de lado em função de uma trégua, selada pelo casamento entre o príncipe Colwyn (Ken Marshall, da minisérie “Marco Pólo”) e a princesa Lyssa (Lysette Anthony).
A razão do encerramento de tal disputa é a aparição de um inimigo em comum, vindo do espaço sideral: Um monstro invasor trazendo hordas de soldados intergalácticos armados.
É esse mesmo inimigo que ataca a cerimônia de casamento e seqüestra a princesa Lyssa, obrigando Colwyn a unir-se a um inusitado grupo para resgatá-la, que inclui o austero e sábio Ynir (Freddie Jones), o aprendiz de feiticeiro Kegan (Liam Neeson, em início de carreira), um mago cego (John Welsh) e um ciclope (Bernard Bresslaw), além de diversos voluntários, desejosos de confrontar as forças opressoras do Senhor da Fortaleza.
Dirigido por Peter Yates (do clássico policial “Bullit”), “Krull” é uma aventura que de fato envelheceu –e sua comparação com a pedra fundamental desse tipo de fantasia “Star Wars” é quase um ato de covardia –mas, como em muitos casos de filmes dos anos 1980, esse anacronismo que lhe acomete hoje é um de seus mais irresistíveis apelos, sem falar que ele guarda elementos interessantes de sobra, como a esteticamente intrigante arma chamada ‘gladium’ –talvez, a mais divertida e criativa alternativa para um sabre de luz do cinema! –os efeitos especiais que replicam traquejos técnicos da época do stop-motion, o vilão monstruoso cheio de características amedrontadoras e ambíguas, e a mocinha inesperadamente voluntariosa e vibrante da bela ruivinha Lysette Athony.

Nenhum comentário:

Postar um comentário