Há várias pulsões comportamentais inerentes da
indústria –e do modo lúdico com que a sociedade enxergava o embate do bem
contra o mal nos ainda ingênuos anos 1980 –em “Krull”.
Existe o fantasma onipresente de “Star Wars”
que, logo depois do sucesso arrebatador, influenciou uma infinidade de produtos
do gênero naquela década, da qual esta inusitada fantasia de aventura “extraterrestre
medieval” é um de seus mais desiguais exemplares.
Existe também uma postura bastante explícita
que compartilha uma visão de rebeldia jovem para com as normas vigentes contra
o totalitarismo –traduzida, sobretudo, no fato de que os exércitos malignos
usam armaduras homogêneas e armas de raios, e combatem os insurgentes
representantes do bem que aparecem caracterizados como camponeses armados de
porretes, bastões, arcos de madeira e outras peças arcaicas, que remetem também
um combate de indivíduos que vivem da natureza contra a sombra opressora da indústria.
Todas mensagens subliminares que a platéia cativa
dos anos 1980 não tinha ainda o hábito de analisar e interpretar, e por isso
mesmo, não sabia dizer ao certo qual era o fascínio tão irreprimível que levava
uma produção de aspectos B, ao mesmo tempo precária e dona de algum charme, a
cair nas graças de seu público.
“Krull” dá nome a um planeta nos confins da galáxia,
onde uma antiga disputa entre dois povos é colocada de lado em função de uma trégua,
selada pelo casamento entre o príncipe Colwyn (Ken Marshall, da minisérie “Marco
Pólo”) e a princesa Lyssa (Lysette Anthony).
A razão do encerramento de tal disputa é a
aparição de um inimigo em comum, vindo do espaço sideral: Um monstro invasor
trazendo hordas de soldados intergalácticos armados.
É esse mesmo inimigo que ataca a cerimônia de
casamento e seqüestra a princesa Lyssa, obrigando Colwyn a unir-se a um
inusitado grupo para resgatá-la, que inclui o austero e sábio Ynir (Freddie
Jones), o aprendiz de feiticeiro Kegan (Liam Neeson, em início de carreira), um
mago cego (John Welsh) e um ciclope (Bernard Bresslaw), além de diversos voluntários,
desejosos de confrontar as forças opressoras do Senhor da Fortaleza.
Dirigido por Peter Yates
(do clássico policial “Bullit”), “Krull” é uma aventura que de fato envelheceu –e
sua comparação com a pedra fundamental desse tipo de fantasia “Star Wars” é
quase um ato de covardia –mas, como em muitos casos de filmes dos anos 1980,
esse anacronismo que lhe acomete hoje é um de seus mais irresistíveis apelos,
sem falar que ele guarda elementos interessantes de sobra, como a esteticamente
intrigante arma chamada ‘gladium’ –talvez, a mais divertida e criativa
alternativa para um sabre de luz do cinema! –os efeitos especiais que replicam
traquejos técnicos da época do stop-motion, o vilão monstruoso cheio de
características amedrontadoras e ambíguas, e a mocinha inesperadamente
voluntariosa e vibrante da bela ruivinha Lysette Athony.
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