terça-feira, 20 de junho de 2017

Uma Canção de Amor Para Bobby Long

Embora a sutileza da diretora Shainee Gabel seja digna de admiração, algo parece incomodar em “Uma Canção de Amor Para Bobby Long”.
E esse algo talvez seja o belíssimo “Encontrose Desencontros”, de Sofia Coppola, que revelou Scarlett Johansson e elevou o status do ator e comediante Bill Murray. Apesar de ter uma ambientação completamente distinta e contar, também ele, uma história toda diferente, o trabalho de Sofia Coppola naquela produção parece ser o molde por meio do qual o filme de Gabel se constrói.
Percebe-se em John Travolta –já veterano, longe do garotão de “Os Embalos de Sábado À Noite” –uma intenção clara de alcançar o mesmo brilhantismo que deu fôlego inédito à carreira de Murray; até mesmo a própria Scarlett Johansson comparece aqui, estreitando ainda mais a comparação –e, ironicamente, revelando-se a melhor coisa do filme com uma atuação sedutora, rude, vulnerável e emocionante, o quê lhe valeu uma merecida indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática.
Afora esse detalhe, o trabalho de Gabel tem, sim, qualidades o bastante para agradar: Ela narra com bastante senso de ambientação, ritmo e atmosfera a história da jovem Purslane (Scarlett, cujo talento é suficiente para impedir que sua grande beleza comprometa sua atuação). Vivendo num trailer com um namorado que mal suporta, ele volta ao lugar em que cresceu, Nova Orleans, após a súbita morte da mãe.
Esse, em princípio, parece ser um passado que ela almeja deixar para trás –a todo o lugar que vai os comentários acerca da beleza que ela herdou da mãe são os mesmos –mas, como toca ao bom drama norte-americano, as coisas não sairão conforme a jovem planejou.
Ela vem a descobrir que a casa de sua mãe está ocupada pelos dois homens que acompanharam ela nos últimos anos de vida; o ex-professor, intelectual e totalmente alcóolatra Bobby Long (John Travolta, ora histriônico, ora ostentando certa competência, alternando momentos irascíveis e ternos), e seu inseparável amigo, Lawson Pines (Gabriel Macht, certamente o ponto fraco do filme), ajudante nos tempos de universidade.
Convivendo debaixo do mesmo teto, ainda que a contra-gosto, Purslane irá trazer grandes mudanças à vida dos dois, e vice-versa.
Algumas surpresas estão reservadas ao final, a entrelaçar o destino de todos.
O esmero de John Travolta e sua tentativa em entregar aqui uma atuação memorável é perfeitamente notável, ainda que seja indiscutível o fato de que quem se destaca de verdade é a sensacional Scarlett Johansson, e a diretora Gabel não demora a perceber isso: Ela cede à todas as inclinações do roteiro que terminam por fazer dela a grande protagonista do filme. E isso só lhe engrandece o resultado –como a trama familiar disfuncional que é (e este é também o fator com o qual se afasta das comparações desfavoráveis com “Encontros e Desencontros”) “Bobby Long” centra coerentemente sua narrativa na personagem de uma mulher, que um acaso feliz fez ser a melhor presença em cena.
Scarlett está, não só linda como também carismática, passional e vívida no papel de Purslane.

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