quarta-feira, 21 de junho de 2017

Senhores do Crime

A crítica se derreteu quando David Cronenberg lançou este trabalho refinado, contido para seus padrões, mostrando aquilo que uns acreditavam ser uma inclinação maior para um cinema mais comercial.
Todavia, “Senhores do Crime” é um trabalho no qual Cronenberg em momento algum deixa de ser Cronenberg! Estão lá todas as suas inquietações acerca das pulsões antropológicas do homem, e que o levam a refletir os aspectos mais bestiais presentes em manobras comportamentais existentes na “civilização” –a diferença é o registro que esse diretor incansável escolheu para sua narrativa: Assim como também eram diferentes os registros escolhidos em “Enraivecida-Na Fúria do Sexo”, de 1977 (que Cronenberg sempre considerou um de seus trabalhos mais comerciais), em “A Hora da Zona Morta”, de 1983, em “A Mosca”, de 1986, e em “Gêmeos-Mórbida Semelhança”, de 1988.
O alarde de alguns críticos a respeito da “comercialização” do autor em “Senhores do Crime”, como se pode ver, foi fruto da incapacidade de lembrar das nuances sofridas por suas obras ao longo de toda sua carreira.
A narrativa primorosa de “Senhores do Crime” tem início quando Anna, uma parteira londrina (Naomi Watts, sensacional), resolve seguir as pistas para descobrir a identidade de uma jovem que morreu ao dar a luz no hospital em que ela trabalha.
Suas investigações a levam à Máfia Russa e seus figurões, homens perigosos que podem representar séria ameaça a sua vida e a de sua família. Nesse ambiente ela conhece o leal e ambicioso Nikolai (Viggo Mortensen reprisando a parceria com Cronenberg do excelente "Marcas da Violência"), motorista do Chefão (Armin Mueller-Stahl), incumbido de resolver os constantes problemas do filho do patrão, Kirill (Vincent Cassel).
Ela e Nikolai desenvolvem uma curiosa ligação que irá revelar outras surpresas ocultas.
Visivelmente à vontade trabalhando juntos (e demonstrando uma sintonia singular de idéias, ousadias e propósitos –culminando na audaciosa cena de luta dentro da sauna), o diretor David Cronenberg e o ator Viggo Mortensen, realizam aqui um trabalho de pura maestria, numa junção apurada de filme de gangster, intriga, sociedades secretas e fatalismo.

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