segunda-feira, 17 de julho de 2017

Sansão & Dalila

Ainda que modesto para os padrões de seu realizador, o megalomaníaco Cecil B. DeMille (o pioneiro diretor de "Nascimento de Uma Nação", "Intolerância" e "Os Dez Mandamentos"), o clássico “Sansão & Dalila” guarda todas as suas características como contador de histórias: Sua percepção inegável de épico, seus personagens portentosos, maiores que a vida –e, com freqüência, extraídos de um conto bíblico –e o domínio prodigioso que ele tinha para compor um extravagante espetáculo cinematográfico.
É assim, com tintas exultantes que DeMille narra a trajetória de Sansão (o astro Victor Mature, numa atuação hoje icônica), opositor carismático aos conquistadores romanos que destaca-se por sua fé no cristianismo e por sua força descomunal em batalha. Tal força, o próprio Sansão atribui justamente a uma dádiva de Deus.
Como é de se esperar de um homem agraciado com tais dons, Sansão estufa o peito de vaidade. Plenamente identificada com essa grandeza, a sensual Dalila (a notável Hedy Lammar famosa por ser a protagonista da primeira cena de nudez do cinema, no filme "Êxtase") busca, de início, uma aliança com Sansão, mas ele a rejeita em favor de sua irmã mais nova (vivida por uma bem jovem Angela Lansbury). Contudo, ele a perde.
Nutrindo por Sansão amor e ódio em igual proporção, Dalila dispõe-se a seduzi-lo, para então descobrir o segredo de sua força (que vem a ser a extensão de seus longos cabelos) e entregá-lo aos seus inimigos romanos.
Mas, no fundo, Dalila o ama e, mesmo estando ele cego e escravizado, ela o ajudará a prevalecer sobre suas antagonistas, ainda que ao fim, ambos venham a pagar um alto preço.
A exemplo de muitos filmes, cujo conhecimento em meio ao público se deve mais pela TV do que por exibições de cinema (os expectadores atuais, afinal, não tinham idade para terem assistido filmes como este na época de seu lançamento, 1949), este clássico indiscutível do cinema, realizado por DeMille, um de seus mais lendários artesões, acabou imortalizado por inúmeras reprises televisivas, onde cai nas graças de outras gerações.
Não é à toa: Para além da demagogia de qualquer eventual mensagem bíblica (e DeMille era hábil em valer-se de histórias oriundas da Bíblia para criar filmes de aventura repletos de vulgaridades, violência e reviravoltas humanamente dramáticas) este filme possui vibrantes convulsões dramáticas, guinadas de ordem emocional e cenas antológicas que acompanham esse frenesi de maneira momentosa e gratificante.

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