quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Clube de Compras Dallas

Ron Woodroof, cowboy, mulherengo, homofóbico, recebe com incredulidade a notícia de que tem HIV positivo, e que seu tempo de vida não vai além de um mês.
Também pudera: Não obstante a repulsa quase natural com a qual se vê relacionado à uma doença atrelada à comunidade gay, aqueles eram meados dos anos 1980, e a sociedade ainda começava a lidar com a AIDS.
E o próprio Woodroof, mais do que os outros igualmente preconceituosos texanos à sua volta, ardia de indignação com tamanha ironia cruel do destino.
A trajetória de Woodrof, na oportunidade dramática que oferece, passará pela aceitação de seus semelhantes, mesmo aqueles que ele outrora abominaria –incluindo aí o travesti Rayon, interpretado com presença e empenho por Jared Leto, vencedor do Oscar 2013 de Melhor Ator Coadjuvante.
Mas, o diretor Jean-Marc Vallé (de “Livre” e “A Jovem Rainha Vitória”) não se restringe à esse arco narrativo: Ele o equilibra com uma observação relevante sobre os percalços médicos, sociais e emocionais potencializados pela mentalidade vigente na época em que tudo se sucedeu –Inicialmente, a grande promessa de cura era um medicamento experimental chamado AZT. Ao usar de seus próprios (e clandestinos) meios, Woodroof descobre que o AZT mais prejudica do que beneficia a saúde já depauperada de seus usuários, e inicia assim uma espécie de auto-medicação mais eficaz valendo-se de um coquetel de drogas, ingredientes que, em sua maioria, ainda se encontravam ilegais nos EUA. Ao tentar levar esse benefício a outras pessoas portadoras da AIDS (e criando, dessa forma, o assim chamado Clube de Compras Dallas), Woodroof bate de frente com a indústria farmacêutica norte-americana.
Mais do que a jornada íntima de Ron Woodroof (registrada com magnitude e perspicácia pela interpretação de Mathew McConaughey, vencedor do Oscar 2013 de Melhor Ator), o filme de Vallé enumera a circunstâncias diversas que fizeram de seu protagonista um indivíduo extraordinário: Ele não apenas confrontou com veemência (e uma quantia generosa de teimosia) todos os obstáculos jurídicos que se apresentaram durante o longo processo legal que se estendeu até a Suprema Corte –e no qual estava em pauta o monopólio de medicamentos pelas empresas farmacêuticas –como também contrariou a pessimista previsão de todos os médicos que o atenderam; do único mês que lhe deram de vida, o irredutível, persistente e tenaz Woodroof conseguiu batalhar por sua vida por cerca de oito anos.

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