Ron Woodroof, cowboy, mulherengo, homofóbico,
recebe com incredulidade a notícia de que tem HIV positivo, e que seu tempo de
vida não vai além de um mês.
Também pudera: Não obstante a repulsa quase
natural com a qual se vê relacionado à uma doença atrelada à comunidade gay,
aqueles eram meados dos anos 1980, e a sociedade ainda começava a lidar com a
AIDS.
E o próprio Woodroof, mais do que os outros
igualmente preconceituosos texanos à sua volta, ardia de indignação com tamanha
ironia cruel do destino.
A trajetória de Woodrof, na oportunidade
dramática que oferece, passará pela aceitação de seus semelhantes, mesmo
aqueles que ele outrora abominaria –incluindo aí o travesti Rayon, interpretado
com presença e empenho por Jared Leto, vencedor do Oscar 2013 de Melhor Ator
Coadjuvante.
Mas, o diretor Jean-Marc Vallé (de “Livre” e “A
Jovem Rainha Vitória”) não se restringe à esse arco narrativo: Ele o equilibra
com uma observação relevante sobre os percalços médicos, sociais e emocionais
potencializados pela mentalidade vigente na época em que tudo se sucedeu –Inicialmente,
a grande promessa de cura era um medicamento experimental chamado AZT. Ao usar
de seus próprios (e clandestinos) meios, Woodroof descobre que o AZT mais
prejudica do que beneficia a saúde já depauperada de seus usuários, e inicia
assim uma espécie de auto-medicação mais eficaz valendo-se de um coquetel de
drogas, ingredientes que, em sua maioria, ainda se encontravam ilegais nos EUA.
Ao tentar levar esse benefício a outras pessoas portadoras da AIDS (e criando,
dessa forma, o assim chamado Clube de Compras Dallas), Woodroof bate de frente
com a indústria farmacêutica norte-americana.
Mais do que a jornada
íntima de Ron Woodroof (registrada com magnitude e perspicácia pela
interpretação de Mathew McConaughey, vencedor do Oscar 2013 de Melhor Ator), o
filme de Vallé enumera a circunstâncias diversas que fizeram de seu
protagonista um indivíduo extraordinário: Ele não apenas confrontou com
veemência (e uma quantia generosa de teimosia) todos os obstáculos jurídicos
que se apresentaram durante o longo processo legal que se estendeu até a
Suprema Corte –e no qual estava em pauta o monopólio de medicamentos pelas
empresas farmacêuticas –como também contrariou a pessimista previsão de todos
os médicos que o atenderam; do único mês que lhe deram de vida, o irredutível,
persistente e tenaz Woodroof conseguiu batalhar por sua vida por cerca de oito
anos.
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