quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Uma Aventura Na África

Para o maleável Charlie Allnut, beberrão dono do pequeno barco The African Queen, a vida em uma colônia alemã na África, durante a Primeira Guerra Mundial é um recurso válido, justificável e cômodo para afastá-lo dos problemas indesejáveis. Longe da dualidade moral melindrosa e cínica do Ricky Blame, de “Casablanca”, e certamente de sua estampa sofisticada e refinada, Charlie é um tipo novo de anti-herói para o currículo de Humphrey Borgat: Um rabugento que não apenas procura demonstrar sua indiferença em relação ao altruísmo e à compaixão, mas que também deixa transparecer essa postura na aparência desleixada que se permite cultivar.
Charlie, porém, tem lá seus lampejos de bondade: Ele leva provisões às vilas ribeirinhas cuja inacessibilidade ocasiona os moradores de alguma carência.
Será numa dessas vilas em que ele se encontrará com Rose Sayer, uma missionária solteirona britânica em ajuda ao irmão, um pastor presbiteriano; em sua verve discursiva, petulante, espalhafatosa e encantadora Rose é uma das muitas personagens notáveis para as quais Katherine Hepburn emprestou sua maestria.
E reunir dois monstros sagrados como Bogart e Hepburn em um só filme, tenha ele a premissa que tiver, já é, por si, um convite ao deleite irrevogável do expectador. Todavia, o diretor John Huston (que sempre apreciou o potencial camaleônico de Bogart em personagens sempre distintos, vide seus “O Falcão Maltês” e “O Tesouro de Sierra Madre”) faz muito mais: Quando por fim a guerra chega até os confins onde estão, culminando com a morte do irmão de Rose, ela convence Charlie a descer o rio, enfrentando corredeiras e soldados inimigos, a fim de bombardear um navio de guerra alemão.
Em seu percurso, estes notáveis e irresistíveis personagens encontrarão perigos, partilharão uma espécie inédita (para eles próprios) de intimidade, descobrirão entre si uma sintonia e uma cumplicidade ímpares e, ao fim terão protagonizado um dos melhores filmes de aventura do cinema.

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