Desde que se aventurou a revisitar (e a
pré-sequenciar) sua obra-prima “Alien”, de 1979, com “Prometheus”, de 2012, e
este “Alien-Covenant”, Ridley Scott tem buscado nas mais altas inspirações uma
forma de ramificar sua criação com exemplares à altura do inspirado trabalho
que ele mesmo entregou.
Até agora, porém, isso não deu certo.
Se “Prometheus” e seu roteiro multifacetado e
equivocadamente desconexo se aproveitavam de elementos extraídos do livro “As
Montanhas da Loucura”, de H.P. Lovecraft (que sem dúvida, também inspirou o
próprio “Alien”), este novo trabalho parece ser influenciado diretamente por “A
Ilha do Dr. Moreau”, de H.G. Wells.
É quase como numa versão do Dr. Moreau daquele
livro –alguém que, na concepção de grandeza que atribui a si mesmo e na
disponibilidade de recursos que obteve, tenta brincar de Deus –que
reencontramos o andróide David, interpretado por Michael Fassbender,
remanescente de “Prometheus” e a maior conexão, por assim dizer, deste filme com
aquele.
O outro andróide da trama, Walter, é também ele
vivido por Michael Fassbender e integra, por sua vez, a tripulação da nave
Covenant, destinada a cruzar o espaço sideral até um planeta a ser colonizado.
Algo, porém, muda os rumos da missão de maneira
trágica –complicações que terminam tirando a vida de seu capitão (uma ponta não
creditada de James Franco) e despertando o restante da tripulação (que inclui
nomes como Demien Bichir e Danny McBride) do hipersono do qual só acordariam em
uns sete anos.
E o filme, assim, já começa errado: Dando uma
justificativa cheia de meandros desnecessariamente complicados para o seu ponto
de partida e estabelecendo uma motivação (a morte de seu marido, o personagem
de Franco) para a protagonista Daniels (Katherine Waterston, de “Vício Inerente”
e “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, chorona e apática) que pouco afeta o
público ainda nesse início.
A liderança da nave Covenant passa assim para
Oram (Billy Crudup, canastrão) que deixa-se intrigar pelas mensagens de rádio
vindas de outro planeta desconhecido e toma a precipitada decisão de rumar para
lá averiguar.
É a partir daí que o filme de Scott introduz o
personagem do andróide David, retomando-o uma década depois dos acontecimentos
do filme anterior, desta vez, tentando atrelar a si mesmo o papel de criador, e
não de criatura, enquanto se vale das circunstâncias a disposição para dar vida
à monstros, iniciando assim as conexões narrativas deste “Covenant” com “Prometheus”
e, na intenção vaga dos realizadores, com o restante da franquia “Alien” –isso porque,
sim, o monstrengo aparece aqui, indo de encontro a uma das questões frustrantes
do filme anterior, mas ele não faz muito mais do que isso (simplesmente
aparecer) no que diz respeito a honrar toda mitologia que se criou em torno
daquele grande filme.
Marcado por cacoetes de filmes de terror –entre
os quais a criação de personagens estabanados, condenados a tomar sempre a
decisão errada que sela seu destino, e outros visivelmente feitos somente para
morrer, diálogos constrangedores e cenas gratuitas que precedem mortes
sangrentas, como o providencial banho no chuveiro com nudez –o difícil é
ignorar o fato de que o próprio Ridley Scott está vulgarizando o conceito que
ele mesmo criou.
Mas, claro, há uma produção milionária que
garante excelência e beleza a todo o aparato técnico.
Ridley Scott tentou consertar,
é verdade, os equívocos de “Prometheus” conseguindo, no processo tão somente
cometer equívocos novos e se distanciando ainda mais daquele primor que em “Alien”
ele pareceu executar com tanta facilidade.
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