sábado, 2 de setembro de 2017

Alien - Covenant

Desde que se aventurou a revisitar (e a pré-sequenciar) sua obra-prima “Alien”, de 1979, com “Prometheus”, de 2012, e este “Alien-Covenant”, Ridley Scott tem buscado nas mais altas inspirações uma forma de ramificar sua criação com exemplares à altura do inspirado trabalho que ele mesmo entregou.
Até agora, porém, isso não deu certo.
Se “Prometheus” e seu roteiro multifacetado e equivocadamente desconexo se aproveitavam de elementos extraídos do livro “As Montanhas da Loucura”, de H.P. Lovecraft (que sem dúvida, também inspirou o próprio “Alien”), este novo trabalho parece ser influenciado diretamente por “A Ilha do Dr. Moreau”, de H.G. Wells.
É quase como numa versão do Dr. Moreau daquele livro –alguém que, na concepção de grandeza que atribui a si mesmo e na disponibilidade de recursos que obteve, tenta brincar de Deus –que reencontramos o andróide David, interpretado por Michael Fassbender, remanescente de “Prometheus” e a maior conexão, por assim dizer, deste filme com aquele.
O outro andróide da trama, Walter, é também ele vivido por Michael Fassbender e integra, por sua vez, a tripulação da nave Covenant, destinada a cruzar o espaço sideral até um planeta a ser colonizado.
Algo, porém, muda os rumos da missão de maneira trágica –complicações que terminam tirando a vida de seu capitão (uma ponta não creditada de James Franco) e despertando o restante da tripulação (que inclui nomes como Demien Bichir e Danny McBride) do hipersono do qual só acordariam em uns sete anos.
E o filme, assim, já começa errado: Dando uma justificativa cheia de meandros desnecessariamente complicados para o seu ponto de partida e estabelecendo uma motivação (a morte de seu marido, o personagem de Franco) para a protagonista Daniels (Katherine Waterston, de “Vício Inerente” e “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, chorona e apática) que pouco afeta o público ainda nesse início.
A liderança da nave Covenant passa assim para Oram (Billy Crudup, canastrão) que deixa-se intrigar pelas mensagens de rádio vindas de outro planeta desconhecido e toma a precipitada decisão de rumar para lá averiguar.
É a partir daí que o filme de Scott introduz o personagem do andróide David, retomando-o uma década depois dos acontecimentos do filme anterior, desta vez, tentando atrelar a si mesmo o papel de criador, e não de criatura, enquanto se vale das circunstâncias a disposição para dar vida à monstros, iniciando assim as conexões narrativas deste “Covenant” com “Prometheus” e, na intenção vaga dos realizadores, com o restante da franquia “Alien” –isso porque, sim, o monstrengo aparece aqui, indo de encontro a uma das questões frustrantes do filme anterior, mas ele não faz muito mais do que isso (simplesmente aparecer) no que diz respeito a honrar toda mitologia que se criou em torno daquele grande filme.
Marcado por cacoetes de filmes de terror –entre os quais a criação de personagens estabanados, condenados a tomar sempre a decisão errada que sela seu destino, e outros visivelmente feitos somente para morrer, diálogos constrangedores e cenas gratuitas que precedem mortes sangrentas, como o providencial banho no chuveiro com nudez –o difícil é ignorar o fato de que o próprio Ridley Scott está vulgarizando o conceito que ele mesmo criou.
Mas, claro, há uma produção milionária que garante excelência e beleza a todo o aparato técnico.
Ridley Scott tentou consertar, é verdade, os equívocos de “Prometheus” conseguindo, no processo tão somente cometer equívocos novos e se distanciando ainda mais daquele primor que em “Alien” ele pareceu executar com tanta facilidade.

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