Telefilme obscuro da Era do VHS, esta produção
se baseia na história real de Andrei Chinkatilo, serial killer conhecido como ‘o
monstro de Rostov’, que inspirou também os filmes “Evilenko”, de 2004 (debruçado
a elaborar um retrato bastante errôneo do comportamento homicida, interpretado
de forma histriônica por Malcom McDowell) e “Crimes Ocultos”, de 2015 (cuja premissa
visava jogar ainda mais luz sobre a reticência das autoridades soviéticas em
assumir um serial killer, numa postura nitidamente crítica).
Dentre todos, este é o que reúne mais
qualidades.
Em meados dos anos 1980, na União Soviética, o
então legista forense Viktor Burakov (Stephen Rea, em desempenho controlado e
contido) acaba sendo o primeiro a identificar um padrão de diversos cadáveres
vitimados nas redondezas da cidade de Rostov. Os indícios apontam para atrocidades
perpetradas por um único homem, um serial killer.
Burakov se torna chefe de um departamento
voltado a essas investigações e já de começo encontra obstáculos na má vontade
de seus operativos e na inépcia e arrogância de seus superiores que insistem em
encobrir a verdade a fim de perpetuar a fachada harmônica do sistema soviético.
Seu único aliado e, com o passar do tempo, amigo, é o Coronel Fetisov (Donald
Sutherland, carismático) que o instrui, ao longo dos anos, no difícil jogo de
cintura exigido para se extrair recursos do governo soviético de então, e obter
assim uma esperança de capturar o assassino.
Paralelamente, o filme oferece breves vislumbres
da rotina de Chinkatilo (uma atuação minimalista, imersa em trejeitos de Jeffrey
DeMunn), e assim, um retrato pavorosamente humano e desconcertante de um
psicopata num trabalho que só viria a ganhar abordagem similar em obras
seminais que vieram depois como “Seven-Os Sete Crimes Capitais”.
O terço final do filme ainda brinda o
expectador com a presença de Max Von Sydow no breve, porém, fundamental papel
do psiquiatra que extraiu de Chinkatilo a sua confissão.
Comparado com obras mais
recentes, “Cidadão X” é cinema sem pressa de moldar sua narrativa, e por isso
mesmo, extremamente bem sucedido na tarefa de provocar uma impressão alarmante
no público. No sentido da denúncia que faz da irregularidade dos procedimentos
policiais, por sua vez, o filme dirigido por Chris Gerolmo lembra o genial
sul-coreano “Memórias de Um Assassino”, bem como na sensação aflitiva de
impotência experimentada pelos protagonistas e, graças às primorosas interpretações,
passada com facilidade para o expectador.
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