domingo, 3 de setembro de 2017

Cidadão X

Telefilme obscuro da Era do VHS, esta produção se baseia na história real de Andrei Chinkatilo, serial killer conhecido como ‘o monstro de Rostov’, que inspirou também os filmes “Evilenko”, de 2004 (debruçado a elaborar um retrato bastante errôneo do comportamento homicida, interpretado de forma histriônica por Malcom McDowell) e “Crimes Ocultos”, de 2015 (cuja premissa visava jogar ainda mais luz sobre a reticência das autoridades soviéticas em assumir um serial killer, numa postura nitidamente crítica).
Dentre todos, este é o que reúne mais qualidades.
Em meados dos anos 1980, na União Soviética, o então legista forense Viktor Burakov (Stephen Rea, em desempenho controlado e contido) acaba sendo o primeiro a identificar um padrão de diversos cadáveres vitimados nas redondezas da cidade de Rostov. Os indícios apontam para atrocidades perpetradas por um único homem, um serial killer.
Burakov se torna chefe de um departamento voltado a essas investigações e já de começo encontra obstáculos na má vontade de seus operativos e na inépcia e arrogância de seus superiores que insistem em encobrir a verdade a fim de perpetuar a fachada harmônica do sistema soviético. Seu único aliado e, com o passar do tempo, amigo, é o Coronel Fetisov (Donald Sutherland, carismático) que o instrui, ao longo dos anos, no difícil jogo de cintura exigido para se extrair recursos do governo soviético de então, e obter assim uma esperança de capturar o assassino.
Paralelamente, o filme oferece breves vislumbres da rotina de Chinkatilo (uma atuação minimalista, imersa em trejeitos de Jeffrey DeMunn), e assim, um retrato pavorosamente humano e desconcertante de um psicopata num trabalho que só viria a ganhar abordagem similar em obras seminais que vieram depois como “Seven-Os Sete Crimes Capitais”.
O terço final do filme ainda brinda o expectador com a presença de Max Von Sydow no breve, porém, fundamental papel do psiquiatra que extraiu de Chinkatilo a sua confissão.
Comparado com obras mais recentes, “Cidadão X” é cinema sem pressa de moldar sua narrativa, e por isso mesmo, extremamente bem sucedido na tarefa de provocar uma impressão alarmante no público. No sentido da denúncia que faz da irregularidade dos procedimentos policiais, por sua vez, o filme dirigido por Chris Gerolmo lembra o genial sul-coreano “Memórias de Um Assassino”, bem como na sensação aflitiva de impotência experimentada pelos protagonistas e, graças às primorosas interpretações, passada com facilidade para o expectador.

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