Uma das melhores comédias realizadas nos anos
1990, este trabalho brilhante do diretor Harold Ramis equilibra certa reflexão
filosófica com um humor irresistível e prazeroso, obtido graças ao fato do ator
Bill Murray, assim como vários membros da equipe técnica e do elenco, estar em
estado de graça.
Murray usa de seu impecável retrato do cinismo
–cujo uso constante só não o rotulou porque Murray sempre ostentou uma
insuspeita competência muito pouco reconhecida –para interpretar Phil Connors,
o arrogante repórter de uma emissora de TV que, no dia registrado em questão,
vê sua impaciência ser posta a teste durante o período em que, muito a
contragosto, deve ir para a gélida cidadezinha de Punxsutawney (que nome,
hein?!), na Pensilvânia, cobrir o evento chamado, Dia da Marmota.
Ele acorda –insatisfeito com as acomodações do
hotel onde está hospedado –faz seu serviço (que basicamente resume-se a cobrir
a evento em que a população assiste à uma marmota sair de dentro da terra) e
dedica-se então a aporrinhar sua equipe (a produtora interpretada pela bela
Andie McDowell e o cameraman interpretado por Chris Elliott) para ir embora
logo de uma vez. Para sua indignação, não é o que acontece: A previsão do tempo
alerta sobre uma nevasca, obrigando-os a ficar por lá.
É nesse ponto, contudo, que o filme de Harold
Ramis dá sua maravilhosa guinada: Sem quaisquer explicações, sejam de ordem
fantástica, literária ou até mesmo figurada, o dia se repete –Phil acorda na
manhã seguinte e descobre que está vivendo novamente o dia anterior, e que
somente ele parece se dar conta desse detalhe.
E no dia seguinte, tal loucura torna a
acontecer, e no outro depois dele, sucessivamente. Phil se vê preso no que
parece ser uma versão cômica de alguma premissa que ficaria muito bem num dos
episódios da série de TV, “Além da Imaginação”.
Conforme se adapta à sua condição de existência contínua em um único dia, Phil experimenta as diferentes etapas que a mente humana atravessa rumo a uma espécie de amadurecimento: Perplexidade, euforia, graça, irritação, angústia, desespero e, por fim, aceitação.
Conforme se adapta à sua condição de existência contínua em um único dia, Phil experimenta as diferentes etapas que a mente humana atravessa rumo a uma espécie de amadurecimento: Perplexidade, euforia, graça, irritação, angústia, desespero e, por fim, aceitação.
“Feitiço do Tempo” não se enquadra naquela
categoria de filmes, sobretudo comédias, que certos expectadores assistem com o
superficial intuito de se divertir e depois esquecer (embora seja, sim,
inapelavelmente divertido); ele se vale do humor para oferecer ao público uma
noção descontraída e vívida do conceito de karma e dharma, o ciclo que engloba
o objetivo de atingir equilíbrio e sabedoria e, por conseguinte, o domínio da
psique, além de incluir o famoso conceito do Eterno Retorno, de Friedrich Nietzsche,
nas entrelinhas graciosas de seu enredo.
Eis, então, o pulo do gato:
Um filme divertido, otimista e contagiante, provido também de inúmeras camadas
de interpretação.
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