Jessica Chastain é um absurdo. A cada filme,
ela se mostra uma atriz mais hábil e capaz, bela e talentosa. Havia tudo para
que ela se sentisse mesmo à vontade em “Armas Na Mesa” onde ela torna a
colaborar –desta vez, como protagonista –com o diretor John Madden (de
“Shakespeare Apaixonado”) depois de roubar a cena em “A Grande Mentira”.
Ela é Madeline Sloane, uma lobista tida como
uma das grandes profissionais de sua área. E a presença intimidante de Jessica
em cena, sua verborragia astuta em atividade constante logo tratam de convencer
o público disso.
Trabalhando para uma empresa cujo cliente é um
dos barões armamentistas dos EUA –e, para o qual, com efeito, a lei de
desarmamento em votação na bancada do congresso americano deve ser derrubada
–ela muda subitamente de lado, passando a trabalhar para um grupo pró-desarmamento,
liderado por Rodolfo Schmidt (Mark Strong, sempre digno e sólido) que luta por
leis mais rígidas de porte de armas.
A justificativa parecem ser os seus princípios.
Mas, como descobrirá o público e muitos dos
personagens a orbitá-la, princípios são o que menos pesa na balança moral de
Sloane: Tudo o que importa a ela é vencer, e tal vitória justifica a torção
eventual da ética numa série de lances ardilosos que beiram a desonestidade e a
manipulação.
“O segredo para vencer é nunca deixar que seus
inimigos o surpreendam, e sempre surpreendê-los” diz ela, já no contundente
monólogo que abre o filme.
É verdade: Ao longo das pouco mais de duas
horas de filme serão freqüentes os momentos em que os artifícios de Sloane
pegarão de surpresa não apenas seus inimigos, mas também seus aliados e o
expectador. Quando uma máscara parece cair, prestes a revelar enfim uma faceta
de derrotada, descobrimos que foi mais um estratagema elaborado por ela.
Quando os adversários políticos passam a mover
uma série de ataques profissionais e pessoais a ela como forma de
desacreditá-la, somos freqüentemente pegos de surpresa pela forma quase
desumana (e, não raro, surpreendente) com que ela subtrai os problemas e os neutraliza.
Em algum momento, contudo, Sloane irá rever os
limites (ou a falta deles) que ela própria estipulou na busca por seus
objetivos.
Muito do filme depende realmente de Jessica
Chastain; ela consegue fazer o público se importar com essa protagonista mesmo
que ela paulatinamente forneça motivos para desprezá-la, mesmo que sequer haja
uma preocupação em dar-lhe um backup emocional que atrele suas motivações ao
esforço que despende contra os adversários (aliás, o grande calcanhar de
Aquiles da obra), mesmo que muito pouco fiquemos sabendo quem essa mulher é de
fato, e mesmo que ela esteja enfrentando pessoas tão frias e calculistas quanto
ela própria.
“Armas Na Mesa” também se beneficia do
meticuloso roteiro do estreante Jonathan Perera, que parece ávido em mesclar a
loquacidade estrutural nos diálogos de Aaron Sorkin (roteirista de “A RedeSocial”) com o turbilhão informativo –e, para alguns, inacessível –de Adam
McKay no sensacional “A Grande Aposta”, ainda que em sua pouca experiência, ele
não obtenha o equilíbrio primoroso de nenhum desses dois casos.
O diretor Madden,
visivelmente apaixonado pelos meandros narrativos desse tipo de produção –que
agrega as aspirações de um drama contemporâneo, um charme de filme de
espionagem moderno e, mais ao fim, as evoluções sintomáticas de um filme de
tribunal –evidencia essas duas grandes qualidades (uma atriz magnífica e um
roteiro amplo e detalhado) reconhecendo neles os verdadeiros diferenciais deste
trabalho.
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