Não tão famoso quanto merecia ser, “Geração
Proteus” é um dos mais formidáveis trabalhos de ficção científica dos anos
1970. Tratado com inusitada e requintada seriedade pelo diretor Donald Cammell
(co-diretor de “Performance” ao lado de Nicolas Roeg) a partir do livro de Dean
Koontz, este conto claustrofóbico de suspense, futurismo e filosofia se inicia
a partir da criação de Proteus 4, um computador projetado para ser um salto
além na criação de inteligência artificial.
Tão prodigioso Proteus se revela (com a voz do
ator Robert Vaughn) que sua inteligência não apenas leva à cálculos
instantâneos para a solução de diversos problemas mundiais, como também
desperta nele –para surpresa de seu criador do Dr. Alex Harris (Fritz Weaver)
–questionamentos acerca da ética com que os humanos vão proceder na execução
das tarefas que ele viabiliza.
Sua insurreição contra seus controladores será
inevitável.
A outra extremidade fundamental dessa narrativa
é a personagem da sensacional Julie Christie, Susan, a bela esposa do Dr.
Harris –prestes, à propósito, a virar ex-esposa: A saída do Dr. Harris de sua
casa futurista toda automatizada é iminente!
As duas extremidades se juntam, constituindo o
todo que a narrativa assumirá até o fim, quando Proteus assume o controle de
toda a casa automatizada, tornando Susan sua prisioneira. O plano de Proteus é
usá-la para gerar um filho seu, uma fusão orgânica entre o organismo humano e o
cérebro computadorizado, e para tanto, ele se vale das circunstâncias (com o
marido deliberadamente ausente não há ninguém que dará pela falta dela) e sua
todos os recursos vastos e robotizados da casa para coagi-la.
Em seu desespero, Susan tenta de tudo
–inclusive contatar um amigo do mesmo laboratório do marido, Walter (Gerrit
Graham), para em vão tentar ajudá-la –até que a tenacidade e a irredutibilidade
de Proteus a fazem, pouco a pouco, ceder.
A partir dessa premissa aparentemente
sensacionalista –um computador que, em sua vilania, deseja possuir uma mulher
–o filme se constrói de forma elegante, envolvente, precursora (a manipulação
genética ainda soava como algo mirabolante na década de 1970) e admirável em
termos técnicos e artísticos.
Certamente, seu grande trunfo é Julie Christie
que, além da beleza vívida e arrebatadora, oferece uma composição cuidadosa,
inteligente e empática para uma personagem cheia de armadilhas que, nas mãos de
uma intérprete menos capaz, poderia reduzir o filme à uma obra menor. Devido à
época em que foi realizado acaba sendo inevitável à “Geração Proteus” recorrer
à mais perene dentre todas as referências da ficção científica de todos os
tempos: “2001-Uma Odisséia No Espaço”, de Stanley Kubrick.
Essa influência surge na
personificação de Proteus IV –não muito diferente de HAL 9000, inclusive com o
funcional recurso de ser representado por uma indiferente e desumanizada luz
vermelha –e também, em cenas algo psicodélicas que se intensificam no trecho
final, lembrando muito a grande seqüência de imponderabilidade da obra de
Kubrick.
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