terça-feira, 24 de outubro de 2017

A Bruxa Que Veio do Mar

Certamente, há muito daquela inclinação à psicologia algo elegante de Alfred Hitchcock na maneira com que se desenha o suspense neste filme italiano de baixo-orçamento inteiramente filmado em solo norte-americano.
Já iam os anos 1970, e o exploitation em voga permitia e realizadores menos brilhantes unir a competência criativa ensinada pelo mestre do suspense, a rompantes mais audaciosos de cenas expositivas e, em geral, vulgares. Para uma boa parte da platéia essa junção soava interessante o suficiente para que todo um filão fosse explorado naquelas décadas.
E “A Bruxa Que Veio Do Mar” se sai relativamente bem aproveitado-se de tais conceitos.
Não há aqui uma bruxa –não no sentido literal e sobrenatural do termo –e, certamente, ela também não vem do mar –que surge como um elemento imprescindível nas lembranças enevoadas e distorcidas da protagonista Molly (Millie Perkins, de “O Diário de Anne Frank”).
Moradora de Los Angeles, Molly trabalha num bar enquanto mora com a irmã (Vanessa Brown) e os dois sobrinhos que a adoram. Ela lhes conta histórias acerca do próprio pai –que ele teria se perdido no mar e que foi um grande aventureiro –embora logo fique claro que essas histórias só encobrem a real e aterradora verdade: Que Molly foi abusada pelo pai antes dele morrer.
Daí, a patologia de Molly que a impele a mutilar e matar os mesmos homens por quem se sente atraída, fazendo dela uma psicopata.
Escrito por Robert Thom (marido de Millie), o roteiro leva certo tempo até harmonizar os mistérios entre o modus operandi de Molly enquanto assassina fria, as imagens surreais que interferem na narrativa na forma de lembranças elípticas e as tentativas da irmã em elucidar toda a verdade para a protagonista, além da titubeante investigação da polícias em torno das mortes, extraindo disso o suspense que visa absorver o público para dentro da trama. E, na maior cara de pau, o roteiro de Thom prioriza Millie dando a ela uma quantidade farta de monólogos que a centralizam na história, enquanto os demais personagens são, quando muito, monossilábicos em sua presença –verdade seja dita, ele dá à ela várias cenas de nudez também,muitas delas limadas em outras versões do filme.
Do jeito como está, “A Bruxa...” é um interessante estudo psicológico sobre uma mente avariada com todos os lapsos de ingenuidade que se podia esperar das realizações do período.

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