Certamente, há muito daquela inclinação à psicologia
algo elegante de Alfred Hitchcock na maneira com que se desenha o suspense
neste filme italiano de baixo-orçamento inteiramente filmado em solo
norte-americano.
Já iam os anos 1970, e o exploitation em voga
permitia e realizadores menos brilhantes unir a competência criativa ensinada
pelo mestre do suspense, a rompantes mais audaciosos de cenas expositivas e, em
geral, vulgares. Para uma boa parte da platéia essa junção soava interessante o
suficiente para que todo um filão fosse explorado naquelas décadas.
E “A Bruxa Que Veio Do Mar” se sai
relativamente bem aproveitado-se de tais conceitos.
Não há aqui uma bruxa –não no sentido literal e
sobrenatural do termo –e, certamente, ela também não vem do mar –que surge como
um elemento imprescindível nas lembranças enevoadas e distorcidas da
protagonista Molly (Millie Perkins, de “O Diário de Anne Frank”).
Moradora de Los Angeles, Molly trabalha num bar
enquanto mora com a irmã (Vanessa Brown) e os dois sobrinhos que a adoram. Ela
lhes conta histórias acerca do próprio pai –que ele teria se perdido no mar e
que foi um grande aventureiro –embora logo fique claro que essas histórias só
encobrem a real e aterradora verdade: Que Molly foi abusada pelo pai antes dele
morrer.
Daí, a patologia de Molly que a impele a
mutilar e matar os mesmos homens por quem se sente atraída, fazendo dela uma
psicopata.
Escrito por Robert Thom (marido de Millie), o
roteiro leva certo tempo até harmonizar os mistérios entre o modus operandi de
Molly enquanto assassina fria, as imagens surreais que interferem na narrativa
na forma de lembranças elípticas e as tentativas da irmã em elucidar toda a
verdade para a protagonista, além da titubeante investigação da polícias em
torno das mortes, extraindo disso o suspense que visa absorver o público para
dentro da trama. E, na maior cara de pau, o roteiro de Thom prioriza Millie
dando a ela uma quantidade farta de monólogos que a centralizam na história,
enquanto os demais personagens são, quando muito, monossilábicos em sua
presença –verdade seja dita, ele dá à ela várias cenas de nudez também,muitas
delas limadas em outras versões do filme.
Do jeito como está, “A
Bruxa...” é um interessante estudo psicológico sobre uma mente avariada com
todos os lapsos de ingenuidade que se podia esperar das realizações do período.
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