segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância

Não é por acaso que a ironia pulsa deste trabalho do diretor mexicano Alejandro Gonzáles Iñarritu –não havia abordagem melhor, mais apropriada e merecida do que um humor cáustico para falar sobre as percepções da arte pelo ponto de vista frenético daqueles que se alimentam do aplauso público.
Outrora famoso por interpretar o super-herói Birdman nos cinemas, o ator veterano Riggan Thompson (Michael Keaton, transcendental em sua excelência) tenta reaver o prestígio perdido produzindo e protagonizando uma peça adaptada de um conto do escritor Raymond Chandler na Broadway. Mas, a montagem além de enfrentar os obstáculos de praxe, acaba sendo prejudicada por um astro imprevisível e vaidoso (Edward Norton, no seu melhor trabalho em muitos anos), convidado em cima de última hora para trazer mais evidência ao projeto, e pela costumeira rejeição dos críticos.
Substituindo o drama contundente que definia sua narrativa em “Amores Brutos”, "21 Gramas" e “Babel”, por uma comédia ferina e elegante que surpreendentemente lhe cai muito bem, o diretor Alejandro Gonzáles Iñarritu concebe um grande trabalho no qual exercita, de maneira esteticamente distinta do convencional (os planos ininterruptos de câmera são um show à parte da direção de fotografia), a percepção de arte, carreira e sucesso que acerca os bastidores do show-bussiness e os egos daqueles que o orbitam.

A câmera ao simular um único take magistral a acompanhar todo este filme agraciado com 4 Oscars, (incluindo de Melhor Filme e Diretor) parece remeter a uma simulação técnica e espiritual do formato teatral –em especial, no fôlego admirável do grande elenco que se desdobra em entradas e saídas de cena espetaculares –ao qual Iñarritu dedica tanta admiração.

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