A quantidade de obras influenciadas pelo
“Alien”, de Ridley Scott, hoje, chegam aos dois dígitos –quiçá, três dígitos! –sendo
ainda assim poucos deles genuinamente relevantes.
Contudo, “Galáxia do Terror”, não obstante o fato de virar, com freqüência, uma comédia involuntária destaca-se entre
eles por ser uma produção de Roger Corman –e abranger assim uma série de outras
influências artísticas como “Planeta dos Vampiros”, de Mario Bava –e por trazer,
em suas fileiras de técnicos, um iniciante James Cameron, creditado como
cenógrafo, diretor de segunda unidade e membro da equipe de efeitos visuais!
Na trama, que une um absurdo típico dos filmes
B com a efervescência criativa característica de Roger Corman (e que
descaradamente remetia à ampla mitologia de criação de “Star Wars”)
acompanhamos a partida de uma nave do planeta Xirxes em direção ao planeta
Morganthus, sob uma missão de resgate a mando de um tal de “Mestre” (um ser
enigmático cujos “defeitos especiais” escondem o rosto do ator com uma luz
vermelha das mais artificiais lhe cobrindo a cabeça).
A missão é nebulosa, assim como as intenções do
“Mestre” que serão de fato esclarecidas no desfecho, entretanto, a tripulação
segue sua orientação com níveis oscilantes de submissão, e parecem ter saído
direto do elenco de “Apertem Os Cintos, O Piloto Sumiu” (!): Há, por exemplo, o
pretenso herói cheio de pose Cabren (Edward Albert, de “Abelhas Assassinas”,
com um bigodinho que lembra tanto Tom Skerrit, de “Alien”, como também o cantor
Freddie Mercury!), a mocinha sensitiva e sabichona Alluma (Erin Moran), a
capitã megalomaníaca com uns parafusos a menos Trantor (Grace Zabriskie, a
bruxa pavorosa de “Império dos Sonhos”, de David Lynch), o cara durão que se
abstém de usar armas e usa em vez disso uns cristais –e chora pela perda deles
mais do que pela morte dos companheiros! –Quuhod (Sid Haig, de “Rejeitados Pelo
Diabo” e diversos outros filmes de Rob Zombie), o jovem irrequieto e assustado
com aparência de alívio cômico –mas que paradoxalmente é o mais sem graça de
todos... –Ranger (Robert Englund, o eterno Freddy Krueger de “A Hora do
Pesadelo”, anos antes de seu icônico personagem), o cozinheiro que desde o
início ostenta um aspecto suspeito –cuja ‘grande surpresa’ reservada a ele no
final é possível prever graças à imensa displicência do ator que o interpreta –Kore
(Ray Walston, de “My Favorite Martian” e “Picardias Estudantis”), o típico
personagem medido à besta –e freqüente em filmes de terror –cuja incoerência
das decisões colocará a perder a vida de todos Baelon (interpretado
canhestramente por Zalman King que anos depois seguiria carreira como
roteirista e diretor de filmes eróticos), a astronauta gatinha que sempre morre
cedo demais Dameia (a bela Taaffe O’ Connell, protagonista daquela que deve ser
a cena mais lembrada do filme: Um bizarro estupro envolvendo um verme gigante e
muita nudez gratuita!), e alguns outros bem menos importantes.
Um núcleo de personagens, como se pode
perceber, digno de constatar em qualquer besteirol dos anos 1980 –e cuja
interpretação do elenco corresponde a tal impressão! –porém, vividos com uma
seriedade sardônica que só lhe enaltece a galhofa.
Defendido por uns poucos que insistem em
enxergar nele uma premissa inteligente onde o conceito de ‘monstro espacial’ é
subvertido em função de uma idéia –má representada –sobre a manifestação dos
piores terrores inconscientes dos personagens (algo como a ameaça do ID, também
presente no enredo do clássico “O Planeta Proibido”) e atacado por muitos
outros mais que não conseguem enxergar além de suas interpretações toscas, as
manobras narrativas sem noção de seu roteiro, o comportamento bipolar de seus
personagens e a construção sem pé nem cabeça de suas cenas, “Galáxia do Terror”
é, para todos os efeitos, uma produção assumida e absolutamente trash (e não
poderia ser mesmo diferente), do tipo que, hoje, o impiedoso circuito comercial
não permitiria mais existir –talvez por isso, há nele uma aura anacrônica,
nostálgica até, que lhe atribui uma atmosfera inesperadamente sexy!
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