Há diversos méritos que sobrepõem este filme
acima do anterior, “Navegando Em Águas Misteriosas”, em termos de qualidade: O
roteiro que encontra meios até inventivos de relacionar sua trama à história
contada nos três primeiros filmes da franquia; a mocinha com muito mais carisma
e motivação vivida por Kaya Scodelario (na verdade, nesse detalhe este filme
supera todos os demais!); e a duração, mais curta e enxuta (embora o filme
ainda se estenda para além das duas horas de metragem).
Infelizmente, este filme também tem lá seus
deméritos, oriundos principalmente dos trejeitos indissociáveis que a saga
adquiriu desde seu início, e que se repetem com impressão deliberada neste
quinto exemplar.
O Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp, cujo
personagem perdeu um pouco do protagonismo devido aos abalos pessoais na
carreira) agora é procurado por Henry Turner (Brenton Thwaites, de “Deuses doEgito”), rapaz determinado à quebrar a maldição que impede seu pai de regressar
para terra firme e viver em família –sim, ele é filho de Will Turner (Orlando
Bloom) transformado no capitão imortal do navio “Holandês Voador” ao final de
“No Fim do Mundo”!
O único meio de quebrar a maldição (na verdade,
de quebrar todas as maldições) é encontrando o Tridente de Poseidon –e é aí que
torna-se necessário encontrar Jack Sparrow, ou melhor, sua bússola mágica com a
qual é possível achar tal artefato.
Três personagens irão cruzar-se com eles no
percurso de sua aventura: A jovem e bela Carina Smith (Kaya), dedicada
estudiosa de astronomia (e sintomaticamente confundida com uma bruxa pelos
numerosos ignorantes da época); o capitão Barbosa (Geoffrey Rush, com
freqüência tão bom, ou melhor, que o próprio Johnny Depp em cena), que desde “AMaldição do Pérola Negra” vive uma relação de inimizade e aliança constante com
Sparrow; e o fantasmagórico Capitão Salazar (o espanhol Javier Barden), o
providencial vilão sobrenatural deste filme cuja origem é profundamente
relacionada à do próprio Jack Sparrow –o qual, à propósito, ele anseia
encontrar para concretizar sua vingança.
E ainda no terreno das participações luxuosas,
temos uma breve (e consideravelmente aleatória) aparição de Paul McCartney como
tio de Jack Sparrow, espelhando a participação especial (bem melhor) de Keith
Richards em alguns dos filmes anteriores.
Os diretores Joachim Rønning e Espen Sandberg
(realizadores de “A Aventura de Kon-Tiki”, produção norueguesa indicada ao
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012) buscam, portanto, uma sutil
diferenciação de seu trabalho em relação ao de Gore Verbinski (diretor dos três
primeiros) e de Rob Marshall (do quarto), no que são, em sua maior parte do
tempo, mau sucedidos, esmagados pela convenção de fazer desta uma obra tão
homogênea quanto as outras. Eles ocasionalmente introduzem novas e inventivas
percepções acerca de uma aventura em alto-mar, traduzidas em enquadramentos inesperados,
numa fluidez quase de desenho animado (mais perceptível na primeira metade,
debilitada na segunda) e numa identidade visual peculiar em relação aos demais
filmes, embora não consigam evitar nem o fato de que as mesmas repetições de
premissa e artimanhas rocambolescas permanecem todas lá, nem a falta de
traquejo deles próprios para conduzir o humor das cenas cômicas ou a falta de
experiência para administrar o ritmo e a continuidade de uma superprodução.
No frigir dos ovos é um trabalho superior ao
último filme, o mais fraco da série até então, mas está longe de ter frescor e
o sabor de novidade dos três primeiros exemplares, uma tendência que
infelizmente deve se tornar o principal calcanhar de Aquiles da franquia daqui
para frente.
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