Empatia. Esse é o grande acerto por trás de um
dos melhores filmes de terror dos últimos tempos –e essa qualidade se refletiu
em sucessivas quebras de recordes de bilheteria desde que ele esteve em cartaz.
Poucos são ultimamente os filmes de terror que
recorrem à empatia: Os trabalhos atuais espelham a seriedade empostada de seus
realizadores (com freqüência, jovens e arrogantes), e as influências que eles
costumam buscar (sendo “O Exorcista” uma das mais comuns nos últimos anos) em
detrimento à qualquer esforço de originalidade.
“It” vai na contramão disso tudo.
O diretor Andy Muschietti (de “Mama”) pega o
calhamaço impressionante que é o imenso tomo escrito por Stephen King (segundo
o próprio um de seus livros mais acarinhados) e dele extrai o sumo de sua
primeira metade cronológica –a trama se passa em duas fases de tempo e este
primeiro filme se ocupa só da fase inicial –e com ele molda um filme
inevitavelmente encantador e freqüentemente apavorante, feito de amor
incondicional. E de uma técnica cinematográfica substancialmente arrojada; o
diretor de fotografia é o sul-coreano Chung Hoon Chung, o mesmo do “Old Boy”
original e da obra-prima “A Criada”.
O verão de 1989 chega à cidadezinha
norte-americana de Derry com uma nuvem obscura à pairar sobre o jovem Bill
(Jaeden Lieberher, de “Guardiões da Galáxia”), de apenas doze anos, e seus
inseparáveis amigos do Clube dos Otários: O falastrão e espirituoso Ritchie
(Finn Wolfhard, da série “Stranger Things”), o hipocondríaco Eddie (Jack Dylan
Grazer), e o austero Stan (Wyatt Oleff). A razão: Um ano antes, Georgie, o
irmão menor de Bill desapareceu misteriosamente –e, na cena espetacular que
abre o filme, o diretor Muschietti não apenas dá uma amostra da técnica
magistral com a qual irá narrar todo o filme, como também deixa bem claro ao
expectador que Georgie morreu (potencializando dramaticamente a busca vã de
Bill por ele) e ainda já apresenta ao público um dos grandes trunfos do filme;
a interpretação rica em técnicas inusitadas e plena de maestria do ator Bill
Skarsgaard, como o assustador palhaço fantasmagórico Pennywise.
Aos quatro garotos liderados por Bill, logo
juntam-se outros, também vítimas do bullying e da cruel perseguição dos outros
jovens do lugar: o deslocado tratador de ovelhas Mike (Chosen Jacobs), o
gordinho excluído e inteligente –e fã de “New Kids On The Block”! –Ben (Jeremy
Ray Taylor), e especialmente, a radiante e destemida Beverly (a apaixonante Sophia
Lillis).
Eles não agregam apenas amizade ao grupo,
contribuem, também, com informação: Juntas, as crianças descobrem que Derry há
anos é assolada por uma incomum taxa de desaparecimento de adultos e crianças,
e esses desaparecimentos se intensificam a cada vinte e sete anos. A tragédia
envolvendo Georgie pode, inclusive, ter algo a ver com isso tudo, e as crianças
suspeitam que tem relação com o pavoroso palhaço Pennywise que lhes têm
assombrado individualmente, e cujo reduto parecem ser os labirínticos subsolos
de esgotos que se ramificam por baixo de toda a cidade.
Acrescido à essa urgente e palpitante trama de
horror, o diretor emoldura os personagens e os acontecimentos com um inebriante
clima de nostalgia (e a ambientação nos anos 1980 é usada plena e generosamente
em função desse efeito emocional) obtendo um raro envolvimento do expectador
com os jovens protagonistas: A empatia de que eu falei.
Talvez por isso mesmo, “It-A Coisa”, em sua
narrativa poderosamente sentimental, lembra um bocado o filme “Super 8”, de
J.J. Abrahams. Os paralelos são inúmeros e vão dos mais óbvios (os personagens,
a disposição de acontecimentos no roteiro, e até o monstro que também usa o
subterrâneo para se esconder) aos mais sutis (a personagem Beverly tem o mesmo
tratamento da narrativa que a de Alice, vivida por Elle Fanning, naquele filme,
incluindo aí uma espécie de triângulo amoroso juvenil, também ele envolvendo a
figura de um gordinho mostrado de modo nada estereotipado).
Engana-se, contudo, quem supor que “It-A Coisa”
se inspirou (ou mesmo, copiou) a premissa de “Super 8”: É bem provável que
tenha sido o próprio “Super 8” que se inspirou –e muito –no livro de Stephen
King (que, diga-se de passagem, havia ganhado antes, em 1990, uma versão
televisiva em forma de minissérie).
A despeito de sua longa duração –duas horas e
catorze minutos –este filme se encerra de forma emocionante deixando um
agridoce gosto de quero mais na boca do expectador: Tão cativantes e preciosos
são os seus personagens, tão envolvente é a dinâmica que se forma entre eles
que o tempo de filme é pouco para podermos usufruir sua companhia (mesmo que
ela venha atrelada à sustos eletrizantes).
Não tema, o Capítulo 2, com
os personagens agora adultos regressando à Derry, já foi confirmado. O desafio
será realizar um filme tão encantador, poderoso, inesquecível e com tanta
empatia quanto este daqui.
Obrigada pela crítica. Eu realmente gostei. Eu adorei a nova adaptação do livro de Stephen King no cinema. A verdade acho que até agora houve estréias cinematográficas excelentes das suas histórias muito boas, mas o meu preferido foi A Coisa filme por que além de ter uma produção excelente, tem uma boa história. Li que Andy Muschietti foi o responsável do filme e fiquei muito satisfeita com o seu trabalho, além de que o elenco foi de primeira. Já estou esperando a sequência, seguro será um sucesso.
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