O diretor brasileiro Walter Salles foi sensato
ao despir seu filme de qualquer ideologia. Terreno pantanoso e no mínimo
controverso quase inerente ao personagem retratado, Ernesto ‘Che’ Guevara que,
mais tarde, se tornaria um ícone entre revolucionários ainda que por meio de
uma trajetória carregada de pontos nebulosos e atuações discutíveis.
Do jeito como está, neste prazeroso filme
construído por Salles, o ainda jovem Ernesto Guevara (Gael Garcia Benal, numa
atuação perfeitamente equilibrada) é tão somente o relativamente ingênuo
protagonista deste belo filme de aventura no qual, após formar-se na faculdade
de medicina, ele resolve fazer um tour por toda a América Latina dos anos 1940
de então, acompanhado de seu grande amigo Alberto Granado (o extraordinário
Rodrigo de La Serna), a bordo da motocicleta "La Poderosa".
No percurso de sua viagem, Guevara se dá conta
de todo um continente habitado por pessoas dignas em sua luta pela
sobrevivência, mas fragilizadas por injustiças sociais.
Essa viagem –concluída com uma espécie de
residência como médico nas regiões remotas da Amazônia –opera nele, portanto,
uma transformação que moldará seu caráter revolucionário.
Apaixonado por todos os elementos que compõem e
definem o gênero do road-movie, Walter Salles faz aqui seu melhor trabalho até
então, desfazendo-se de inconvenientes existencialismos intelectuais, comuns em
muitos pretensiosos cineastas brasileiros para realizar uma obra de apelo
lúdico, cheia de empatia e charme regional.
Características captadas à perfeição na bela
canção “Al Otro Lado Del Rio”.
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