terça-feira, 21 de novembro de 2017

O Aviador

Dentre as colaborações entre o diretor Martin Scorsese e o astro Leonardo Dicaprio, os melhores trabalhos são certamente “O Lobo de Wall Street” e este “O Aviador”, a despeito de Scorsese ter levado o Oscar por “Os Infiltrados”.
Durante muito tempo, o cinema americano cortejou uma biografia do multi-milionário Howard Hughes (ele apareceu em especialíssimas participações em “Melvin & Howard”, vivido por Jason Robards, em “Tucker-Um Homem e Seu Sonho”, de Francis Ford Coppola, interpretado por Dean Stockwell, e até mesmo na fantasia “Rocketeer”, vivido por Terry O’ Quinn, o Locke da série “Lost”): Houveram projetos acalentados por cineastas como Bryan Singer e Christopher Nolan e a presença de astros como Jim Carrey, além do diretor Michael Mann que quase dirigiu este filme (aqui ele é produtor), mas quis o destino que fosse mesmo Scorsese quem viesse a materializar tal história.
Herdeiro de uma fortuna milionária cujas lendas em torno de seu nome giravam tanto sobre seu pioneirismo quanto suas excentricidades, o jovem Howard (Dicaprio, realmente primoroso) dedicou boa parte de sua fortuna na criação de aeronaves primorosas, e namorou várias estrelas de cinema incluindo Katherine Hepburn.
Dessa forma, Scorsese muito sabiamente dedica uma abordagem narrativa distinta para cada etapa da vida de Hugues.
No princípio, ele é uma celebridade. Sua aproximação com o cinema (quando produziu filmes como "Hell's Angels" e "O Proscrito") quase coloca-o como uma espécie de Orson Welles, na incontingência de seu ímpeto criativo.
A medida que o filme avança, novas facetas se revelam e “O Aviador” muda, também ele, de gênero: O romance cheio de intransigência e graça com Katherine Hepburn (a espetacular Cate Blanchett), onde flagramos atores famosos da época vividos por atores famosos da atualidade –Jude Law como Eroll Flynn, Gwen Stefani como  Jean Harlow, Kate Beckinsale como Ava Gardner, etc; as peripécias conspiratórias travadas com políticos perniciosos do congresso (representados pelo personagem de Alec Baldwin); e as experiências cada vez mais audaciosas com suas máquinas voadoras, o quê o leva à um acidente terrível (registrado com fulgor cinematográfico ímpar). Após esse trecho, Scorsese dedica-se à transformação de Hugues no ser recluso e misterioso que fomentou a maior parte de sua lenda –uma caricatura de si mesmo com absurdo comportamento hipocondríaco e uma série de transtornos obsessivos compulsivos.
Há, por isso mesmo, um grande mérito na atuação de Leonardo Dicario e na maneira coerente com que ele consegue pairar por todas as fases radicais –e que renderiam, não tenha dúvida, pelos menos um filme cada! –nesta superprodução de alto nível viabilizada certamente não somente pelo nome de Scorsese, mas pela presença do próprio Dicaprio.
“O Aviador” surgiu como um franco favorito no Oscar 2004 (cujas principais estatuetas ele perdeu para o magnífico "Menina de Ouro"), entretanto, apesar da inquestionável qualidade com que tudo é realizado, falta nele aquela euforia artística que caracteriza algumas das melhores obras de Scorsese.
Antes que me esqueça: Assim como Dicaprio, Cate Blanchet entrega uma interpretação de meticulosa precisão no papel complicado e desafiador da estrela Katherine Heburn –uma tarefa que a atriz australiana encara com competência e exuberância, reconhecida com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.

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