Dentre as colaborações entre o diretor Martin
Scorsese e o astro Leonardo Dicaprio, os melhores trabalhos são certamente “O
Lobo de Wall Street” e este “O Aviador”, a despeito de Scorsese ter levado o
Oscar por “Os Infiltrados”.
Durante muito tempo, o cinema americano
cortejou uma biografia do multi-milionário Howard Hughes (ele apareceu em
especialíssimas participações em “Melvin & Howard”, vivido por Jason
Robards, em “Tucker-Um Homem e Seu Sonho”, de Francis Ford Coppola,
interpretado por Dean Stockwell, e até mesmo na fantasia “Rocketeer”, vivido
por Terry O’ Quinn, o Locke da série “Lost”): Houveram projetos acalentados por
cineastas como Bryan Singer e Christopher Nolan e a presença de astros como Jim
Carrey, além do diretor Michael Mann que quase dirigiu este filme (aqui ele é
produtor), mas quis o destino que fosse mesmo Scorsese quem viesse a
materializar tal história.
Herdeiro de uma fortuna milionária cujas lendas
em torno de seu nome giravam tanto sobre seu pioneirismo quanto suas
excentricidades, o jovem Howard (Dicaprio, realmente primoroso) dedicou boa
parte de sua fortuna na criação de aeronaves primorosas, e namorou várias estrelas
de cinema incluindo Katherine Hepburn.
Dessa forma, Scorsese muito sabiamente dedica
uma abordagem narrativa distinta para cada etapa da vida de Hugues.
No princípio, ele é uma celebridade. Sua
aproximação com o cinema (quando produziu filmes como "Hell's Angels" e "O Proscrito") quase coloca-o como uma espécie de Orson Welles, na
incontingência de seu ímpeto criativo.
A medida que o filme avança, novas facetas se
revelam e “O Aviador” muda, também ele, de gênero: O romance cheio de
intransigência e graça com Katherine Hepburn (a espetacular Cate Blanchett),
onde flagramos atores famosos da época vividos por atores famosos da atualidade
–Jude Law como Eroll Flynn, Gwen Stefani como
Jean Harlow, Kate Beckinsale como Ava Gardner, etc; as peripécias
conspiratórias travadas com políticos perniciosos do congresso (representados
pelo personagem de Alec Baldwin); e as experiências cada vez mais audaciosas
com suas máquinas voadoras, o quê o leva à um acidente terrível (registrado com
fulgor cinematográfico ímpar). Após esse trecho, Scorsese dedica-se à
transformação de Hugues no ser recluso e misterioso que fomentou a maior parte
de sua lenda –uma caricatura de si mesmo com absurdo comportamento
hipocondríaco e uma série de transtornos obsessivos compulsivos.
Há, por isso mesmo, um grande mérito na atuação
de Leonardo Dicario e na maneira coerente com que ele consegue pairar por todas
as fases radicais –e que renderiam, não tenha dúvida, pelos menos um filme
cada! –nesta superprodução de alto nível viabilizada certamente não somente
pelo nome de Scorsese, mas pela presença do próprio Dicaprio.
“O Aviador” surgiu como um franco favorito no
Oscar 2004 (cujas principais estatuetas ele perdeu para o magnífico
"Menina de Ouro"), entretanto, apesar da inquestionável qualidade com
que tudo é realizado, falta nele aquela euforia artística que caracteriza
algumas das melhores obras de Scorsese.
Antes que me esqueça: Assim
como Dicaprio, Cate Blanchet entrega uma interpretação de meticulosa precisão
no papel complicado e desafiador da estrela Katherine Heburn –uma tarefa que a
atriz australiana encara com competência e exuberância, reconhecida com o Oscar
de Melhor Atriz Coadjuvante.
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