O personagem vivido por Bruce Lee se chama
meramente Lee, e treina arduamente as artes marciais do templo Shaolin ao qual
se dedica, e isso é basicamente tudo o que saberemos dele em toda trama.
Vá lá: Há também um breve interlúdio a respeito
de uma irmã que ele perdeu para os vilões, mas isso certamente serve apenas
para dar um reforço emocional à sua motivação.
Mas, quer saber? Não precisamos mesmo saber
muito sobre o protagonista de “Operação Dragão” para, em pouquíssimo tempo,
estarmos torcendo por ele: Tão primorosa e incomum era a mistura de carisma,
veemência e autoridade em Bruce Lee que ela continua, ainda hoje,
impressionante em cena.
E autêntica também: São do próprio Bruce Lee os
méritos de cada um dos fabulosos desempenhos físicos de seu personagem nas
cenas de luta e não de dublês.
Como filme de ação, “Operação Dragão” valia-se
de um roteiro extraordinariamente original para a época em que foi feito
–embora tanto tenha sido copiado que não se percebe isso atualmente –e escrito
com uma peculiar inventividade. Aqueles que conhecem “Operação Dragão”
meramente pelo culto criado em torno de Bruce Lee não devem saber que o filme
tem, na realidade, três protagonistas (!).
São eles, Lee um expert em artes marciais
enviado a serviço do que parece ser a Interpol para um torneio de luta em uma
ilha; o bom de briga e bom de lábia Roper (John Saxon) que vai parar nessa
mesma ilha a fim de obter dinheiro para saldar suas dívidas com a máfia; e
Williams (Jim Kelly), amigo de longa data de Roper e, também ele, uma espécie
de soldado da fortuna.
A tal ilha pertence a Han (Shih Kien), outrora
discípulo dos mesmo templo Shaolin de Lee, mas que deturpou os ensinamentos
usando-os para a ganância e o crime. Isolado em sua ilha, Han promove um
torneio entre poderosos lutadores regado à prostituição ilegal e escravidão, e
justamente pela exclusividade geográfica, a polícia não encontra provas para
incriminá-lo –e esta vem a ser assim a missão de Lee no torneio.
Embora haja um esmero notável na criação desses
elementos na sua premissa –tão esmerado que seu mote serviu de inspiração a
infindáveis filmes de ação que se seguiram –a grande atração do filme são (e
isso não é, de forma alguma camuflado) as seqüências de artes marciais. E
nisso, Lee era um craque: A maneira ágil, vigorosa e firme com que ele se move,
a sua elegância no desempenho de todas as lutas (em especial, a magnífica cena
final numa sala de espelhos), até mesmo a forma convincente com a qual ele imprime
um jeito particular de respirar –todos são maneirismos brilhantes e inimitáveis
que fazem dele um astro único, a despeito daqueles que em vão tentaram
recriá-lo nos anos que se seguiram, desde os mais válidos (Jet Li e Jackie
Chan), aos mais truculentos (Chuck Norris e Jean Claude Van Damme).
A perda de Bruce Lee (que
morreu em circunstâncias nebulosas em 1973, três semanas antes da estréia deste
filme) foi uma triste conseqüência para o bom cinema comercial, como foram
também as mortes de James Dean, de River Phoenix, ou de Heath Ledger: Grandes estrelas,
todos eles donos de uma presença única e de uma capacidade inata de ocupar com
plenitude a tela de cinema, e que, depois de partirem, jamais se encontrou quem
preenchesse sua ausência.
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