segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Operação Dragão

O personagem vivido por Bruce Lee se chama meramente Lee, e treina arduamente as artes marciais do templo Shaolin ao qual se dedica, e isso é basicamente tudo o que saberemos dele em toda trama.
Vá lá: Há também um breve interlúdio a respeito de uma irmã que ele perdeu para os vilões, mas isso certamente serve apenas para dar um reforço emocional à sua motivação.
Mas, quer saber? Não precisamos mesmo saber muito sobre o protagonista de “Operação Dragão” para, em pouquíssimo tempo, estarmos torcendo por ele: Tão primorosa e incomum era a mistura de carisma, veemência e autoridade em Bruce Lee que ela continua, ainda hoje, impressionante em cena.
E autêntica também: São do próprio Bruce Lee os méritos de cada um dos fabulosos desempenhos físicos de seu personagem nas cenas de luta e não de dublês.
Como filme de ação, “Operação Dragão” valia-se de um roteiro extraordinariamente original para a época em que foi feito –embora tanto tenha sido copiado que não se percebe isso atualmente –e escrito com uma peculiar inventividade. Aqueles que conhecem “Operação Dragão” meramente pelo culto criado em torno de Bruce Lee não devem saber que o filme tem, na realidade, três protagonistas (!).
São eles, Lee um expert em artes marciais enviado a serviço do que parece ser a Interpol para um torneio de luta em uma ilha; o bom de briga e bom de lábia Roper (John Saxon) que vai parar nessa mesma ilha a fim de obter dinheiro para saldar suas dívidas com a máfia; e Williams (Jim Kelly), amigo de longa data de Roper e, também ele, uma espécie de soldado da fortuna.
A tal ilha pertence a Han (Shih Kien), outrora discípulo dos mesmo templo Shaolin de Lee, mas que deturpou os ensinamentos usando-os para a ganância e o crime. Isolado em sua ilha, Han promove um torneio entre poderosos lutadores regado à prostituição ilegal e escravidão, e justamente pela exclusividade geográfica, a polícia não encontra provas para incriminá-lo –e esta vem a ser assim a missão de Lee no torneio.
Embora haja um esmero notável na criação desses elementos na sua premissa –tão esmerado que seu mote serviu de inspiração a infindáveis filmes de ação que se seguiram –a grande atração do filme são (e isso não é, de forma alguma camuflado) as seqüências de artes marciais. E nisso, Lee era um craque: A maneira ágil, vigorosa e firme com que ele se move, a sua elegância no desempenho de todas as lutas (em especial, a magnífica cena final numa sala de espelhos), até mesmo a forma convincente com a qual ele imprime um jeito particular de respirar –todos são maneirismos brilhantes e inimitáveis que fazem dele um astro único, a despeito daqueles que em vão tentaram recriá-lo nos anos que se seguiram, desde os mais válidos (Jet Li e Jackie Chan), aos mais truculentos (Chuck Norris e Jean Claude Van Damme).
A perda de Bruce Lee (que morreu em circunstâncias nebulosas em 1973, três semanas antes da estréia deste filme) foi uma triste conseqüência para o bom cinema comercial, como foram também as mortes de James Dean, de River Phoenix, ou de Heath Ledger: Grandes estrelas, todos eles donos de uma presença única e de uma capacidade inata de ocupar com plenitude a tela de cinema, e que, depois de partirem, jamais se encontrou quem preenchesse sua ausência.

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