Alçado à categoria de gênio depois da grande
surpresa causada por seu roteiro em “O Show de Truman” (embora muito da
excelência daquele resultado se deva também à direção de Peter Weir), o escritor
Andrew Nicoll resolveu partir, ele próprio, para trás das câmeras, tornando
ainda mais pessoais as transições de suas histórias como as imaginou para a
tela.
A primeira e amplamente interessante
experiência nesse sentido foi o injustamente pouco conhecido “Gattaca”.
A segunda, quando as fragilidades como
realizador de Nicoll se revelaram bem mais nítidas, foi este “S1mone”. E olha
que Nicoll ainda conta aqui com a habitual maestria de Al Pacino.
Ele interpreta Viktor Taransky, veterano
produtor de cinema de Hollywood que, à beira de um ataque de nervos e indignado
com os constantes chiliques de seus astros e estrelas, recebe o que, à
princípio, ele considera uma dádiva: um arquivo com um programa no qual ele é
capaz de criar por computação gráfica uma atriz perfeita (a quem dá o nome de
S1mone), linda, totalmente convincente como ser humano, e obediente a todas as
suas ordens. Ele insere S1mone (vivida com artificialidade excessiva por Rachel
Roberts) nos filmes que pretendia fazer –e que estavam sendo arruinados pelas
complicações das atrizes humanas –dizendo a todos tratar se de alguém de
verdade, e que, num compromisso excêntrico com sua arte deseja desempenhar suas
cenas à parte para que sejam inseridas no filme posteriormente.
O imbróglio dá certo, sem que ninguém desconfie
da falta de veracidade de sua atriz digital.
Entretanto, S1mone torna-se uma grande estrela,
atraindo a atenção e curiosidade de milhões, inclusive pessoas da própria
indústria. Manter essa farsa logo, torna-se uma tarefa cada vez mais difícil.
Se “O Show de Truman” e
“Gattaca” mostravam a preocupação de Nicoll com a manipulação da vida num viés
ao estilo ‘Phillip K. Dick’, em “S1mone”, ele parece interessado em mostrar
quão ineficiente é nossa capacidade de distinção entre o autêntico e o
fabricado, numa narrativa que força uma ausência de calor humano em muitas
ocasiões –um recurso que funcionou às mil maravilhas em “Gattaca”, onde um
futuro estéril era representado, mas que neste filme aqui, onde Nicoll
inclusive manifesta pretensões nunca devidamente concretizadas de fazer
comédia, soa mesmo como uma direção limitada e inexperiente, incapaz de
suscitar em sua narrativa mais do que um único tipo de atmosfera.
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