segunda-feira, 13 de novembro de 2017

S1mone

Alçado à categoria de gênio depois da grande surpresa causada por seu roteiro em “O Show de Truman” (embora muito da excelência daquele resultado se deva também à direção de Peter Weir), o escritor Andrew Nicoll resolveu partir, ele próprio, para trás das câmeras, tornando ainda mais pessoais as transições de suas histórias como as imaginou para a tela.
A primeira e amplamente interessante experiência nesse sentido foi o injustamente pouco conhecido “Gattaca”.
A segunda, quando as fragilidades como realizador de Nicoll se revelaram bem mais nítidas, foi este “S1mone”. E olha que Nicoll ainda conta aqui com a habitual maestria de Al Pacino.
Ele interpreta Viktor Taransky, veterano produtor de cinema de Hollywood que, à beira de um ataque de nervos e indignado com os constantes chiliques de seus astros e estrelas, recebe o que, à princípio, ele considera uma dádiva: um arquivo com um programa no qual ele é capaz de criar por computação gráfica uma atriz perfeita (a quem dá o nome de S1mone), linda, totalmente convincente como ser humano, e obediente a todas as suas ordens. Ele insere S1mone (vivida com artificialidade excessiva por Rachel Roberts) nos filmes que pretendia fazer –e que estavam sendo arruinados pelas complicações das atrizes humanas –dizendo a todos tratar se de alguém de verdade, e que, num compromisso excêntrico com sua arte deseja desempenhar suas cenas à parte para que sejam inseridas no filme posteriormente.
O imbróglio dá certo, sem que ninguém desconfie da falta de veracidade de sua atriz digital.
Entretanto, S1mone torna-se uma grande estrela, atraindo a atenção e curiosidade de milhões, inclusive pessoas da própria indústria. Manter essa farsa logo, torna-se uma tarefa cada vez mais difícil.
Se “O Show de Truman” e “Gattaca” mostravam a preocupação de Nicoll com a manipulação da vida num viés ao estilo ‘Phillip K. Dick’, em “S1mone”, ele parece interessado em mostrar quão ineficiente é nossa capacidade de distinção entre o autêntico e o fabricado, numa narrativa que força uma ausência de calor humano em muitas ocasiões –um recurso que funcionou às mil maravilhas em “Gattaca”, onde um futuro estéril era representado, mas que neste filme aqui, onde Nicoll inclusive manifesta pretensões nunca devidamente concretizadas de fazer comédia, soa mesmo como uma direção limitada e inexperiente, incapaz de suscitar em sua narrativa mais do que um único tipo de atmosfera.

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