Clint Eastwood não dá ponto sem nó. Seus
filmes, sejam os estrelados por ele e, sobretudo, os dirigidos por ele, trazem
sempre uma postura técnica, artística e moral de tal maneira firme e convicta
que não restam qualquer espaço para ambigüidades em relação à reflexão que ele
deseja passar.
Sob esse prisma é fascinante contemplar tudo o
que se percebe em “Sobre Meninos e Lobos”.
Embora tenha conquistado o Oscar (num já
longínquo 1992), por “Os Imperdoáveis”, ainda assim, ele passou a década
seguinte relegado ao segundo escalão de diretores norte-americanos, mesmo que
vez ou outra entregasse bons trabalhos como o divertido “Cowboys do Espaço”.
Foi necessário uma prova inconteste de talento
e competência para Hollywood reconhecê-lo em definitivo como o grande diretor
que é, e essa prova se deu na forma de sucessivas indicações ao Oscar entre
2004 e 2006, com grandes obras como “Sobre Meninos e Lobos”, “Menina de Ouro”
(que lhe agraciou com o segundo Oscar da carreira) e o drama de guerra “Cartas
de Iwo Jima”.
Essa fase extremamente frutífera e aclamada de
sua carreira começou com este filme, um brilhante drama de inúmeras
ressonâncias morais que só um grande diretor poderia mesmo conceber.
O grande roteiro, ganhador do Oscar, de Brian
Helgeland (de “Los Angeles-Cidade Proibida”) inicia-se com um traumático acontecimento
sucedido na infância envolvendo três amigos Jimmy, Sean e Dave: Um deles, Dave,
é levado por um grupo de homens inescrupulosos e somente encontrado algum tempo
depois, quando ficam claros os abusos que sofreu.
Agora adultos, os três vêem-se mais uma vez
lado a lado ante um crime hediondo, desta vez, o assassinato brutal da filha
(Emmy Rossum) de Jimmy (Sean Penn, ganhador do Oscar de Melhor Ator), um
comerciante muito conhecido no bairro em que cresceram. Sean (Kevin Bacon) é
também o policial agora encarregado das investigações desse mesmo crime,
enquanto que Dave (Tim Robbins, ganhador do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante),
que nunca mais foi o mesmo após ter sido abusado no episódio passado passa a
demonstrar um comportamento estranho, chegando a despertar as suspeitas de sua
esposa Celeste (Márcia Gay Harden), irmã de Jimmy. Quando começa a ficar claro
que a polícia pode não encontrar os culpados, o pai, junto de seus amigos,
decide procurar o responsável por conta própria, levando todas as histórias paralelas
a um desfecho trágico.
O aspecto verdadeiramente notável deste poderoso
filme de trama policial –e que torna fascinante o fato de ser dirigido
justamente por Clint Eastwood, famoso pelo personagem reacionário de Dirty
Harry, de “Perseguidor Implacável” –é, portanto, a maneira poderosamente
incisiva e contundente com a qual faz uma severa e instigante crítica ao ato de
justiça com as próprias mãos.
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