terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Os Inocentes

O diretor Alejandro Amenábar deve muito deste clássico de 1961 em seu magnífico “Os Outros” –a ambientação, a premissa e a atmosfera são muito parecidas.
Na cena que dá início ao filme conhecemos a futura governanta Sra. Giddens (Deborah Kerr) em uma entrevista com o tio das crianças que ela irá cuidar (Michael Redgrave, ilustrando muito bem, com essa breve participação, a situação familiar dos personagens).
A Sra. Giddens parte então para o campo onde conhecerá as tais crianças e a mansão onde viverá com elas. Tratam-se dos sobrinhos de seu contratador: O menino Miles (Martin Stephens) e a menina Flora (Pamela Franklin).
O diretor Jack Clayton (realizador da versão setentista de “O Grande Gatsby”) já planta aí os paradigmas que definiriam uma das circunstâncias mais sinistras, funcionais e utilizadas ao longo de décadas de filmes de terror psicológico: A impressão abstrata, porém ameaçadora de que há algo de muito errado com as crianças.
Miles vem de uma escola que o expulsou por motivos ainda nebulosos, e Flora canta uma soturna musiquinha pelos cantos da casa, mas, afora isso, a impressão que a Sra. Giddens tira das crianças é a melhor possível –mal sabe ela, porém, que são indícios menores e iniciais de uma perturbação que irá crescer e aparecer ao longo dos dias.
Alguns fenômenos começam a se acumular de maneira incômoda: Aparições ao longe no casarão de pessoas que não são necessariamente conhecidas; ruídos suspeitos e nunca devidamente explicados; um comportamento bastante estranho da parte de Miles e Flora.
A Sra. Giddens logo tem assim um veredicto: As crianças são atormentadas por fantasmas que nada mais são do que a governanta anterior e seu amante (ele, morto num acidente banal de bebedeira; ela, falecida de tristeza e desgosto logo depois) que as estão corrompendo.
Disposta a superar o temor que essas aparições lhe inspiram, a Sra. Giddens procura encontrar uma forma de livrar as duas crianças dessas assombrações, o quê inclui fazê-las reconhecer suas espectrais presenças –algo que, aparentemente, Miles e Flora lutam para não fazer, e para tanto, já desenvolveram um comportamento peculiar a fim de tentar ignorar tais aparições.
Auxiliado por um grande roteiro construído de minúcias objetivas pelo escritor Truman Capote e por William Archibald e John Mortimer, o diretor Clayton concebe uma obra exemplar do gênero de casas mal-assombradas, onde o trabalho de câmera com as sombras, ainda que mais discreto do que o contraste maniqueísta do expressionismo, é hábil em criar climas de crescente apreensão, conduzindo o expectador em direção a um dos finais mais amargos e pessimistas que um filme de terror já teve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário