O diretor Alejandro Amenábar deve muito deste
clássico de 1961 em seu magnífico “Os Outros” –a ambientação, a premissa e a
atmosfera são muito parecidas.
Na cena que dá início ao filme conhecemos a
futura governanta Sra. Giddens (Deborah Kerr) em uma entrevista com o tio das
crianças que ela irá cuidar (Michael Redgrave, ilustrando muito bem, com essa
breve participação, a situação familiar dos personagens).
A Sra. Giddens parte então para o campo onde
conhecerá as tais crianças e a mansão onde viverá com elas. Tratam-se dos
sobrinhos de seu contratador: O menino Miles (Martin Stephens) e a menina Flora
(Pamela Franklin).
O diretor Jack Clayton (realizador da versão
setentista de “O Grande Gatsby”) já planta aí os paradigmas que definiriam uma
das circunstâncias mais sinistras, funcionais e utilizadas ao longo de décadas
de filmes de terror psicológico: A impressão abstrata, porém ameaçadora de que
há algo de muito errado com as crianças.
Miles vem de uma escola que o expulsou por
motivos ainda nebulosos, e Flora canta uma soturna musiquinha pelos cantos da
casa, mas, afora isso, a impressão que a Sra. Giddens tira das crianças é a
melhor possível –mal sabe ela, porém, que são indícios menores e iniciais de
uma perturbação que irá crescer e aparecer ao longo dos dias.
Alguns fenômenos começam a se acumular de
maneira incômoda: Aparições ao longe no casarão de pessoas que não são
necessariamente conhecidas; ruídos suspeitos e nunca devidamente explicados; um
comportamento bastante estranho da parte de Miles e Flora.
A Sra. Giddens logo tem assim um veredicto: As
crianças são atormentadas por fantasmas que nada mais são do que a governanta
anterior e seu amante (ele, morto num acidente banal de bebedeira; ela,
falecida de tristeza e desgosto logo depois) que as estão corrompendo.
Disposta a superar o temor que essas aparições
lhe inspiram, a Sra. Giddens procura encontrar uma forma de livrar as duas
crianças dessas assombrações, o quê inclui fazê-las reconhecer suas espectrais
presenças –algo que, aparentemente, Miles e Flora lutam para não fazer, e para
tanto, já desenvolveram um comportamento peculiar a fim de tentar ignorar tais
aparições.
Auxiliado por um grande roteiro construído de
minúcias objetivas pelo escritor Truman Capote e por William Archibald e John
Mortimer, o diretor Clayton concebe uma obra exemplar do gênero de casas
mal-assombradas, onde o trabalho de câmera com as sombras, ainda que mais
discreto do que o contraste maniqueísta do expressionismo, é hábil em criar climas
de crescente apreensão, conduzindo o expectador em direção a um dos finais mais
amargos e pessimistas que um filme de terror já teve.
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