“Eles vão nos espetar e não iremos sentir, vão
nos fazer cócegas e não iremos rir, vão nos envenenar e não iremos morrer.”
O filme que deu finalmente o Oscar de Melhor
Diretor ao genial, ainda que controverso e polêmico, Roman Polanski foi também
uma maneira que ele encontrou de refletir sobre suas experiências pregressas (na
infância o próprio Polanski foi um sobrevivente dos campos de concentração) o
que dá à tragédia e ao drama registrados uma autenticidade e um vigor
insuspeitos.
As experiências de vida de Polanski, é certo,
sempre interferiram no caráter de suas obras –como se percebe, por exemplo, em
sua profundamente sangrenta e fatalista versão de “Macbeth”, uma espécie de
reação artística ao assassinato brutal de sua esposa, Sharon Tate –mas, ele
nunca antes tinha abordado o holocausto, da maneira direta, incisiva e pessoal
como o fez ao relatar a história de Wladislaw Spillmmann (Adrien Brody,
agraciado com o Oscar cujo empenho no papel levou-o à uma desnutrição e à um
definhamento físico similar somente à transformação sofrida por Tom Hanks em
“Naúfrago”)
Aclamado pianista judeu, Spillmmann vivenciou a
gradativa tomada das forças alemãs durante o cerco à Varsóvia, na Segunda
Guerra Mundial, o quê levou sua família ao confinamento paupérrimo e
angustiante do gueto e, mais tarde, à morte inclemente nas câmaras de gás onde
os trens os levaram. Esse destino trágico –reservado à toda família dele –só
não se abateu sobre Spillmmann devido a um gesto de última hora de um conhecido
polonês dentre os funcionários dos nazistas.
Spillmmann escapou por um triz e o filme de
Polanski, a partir daí, registra a maneira quase absurda com a qual ele
sobreviveu por anos entre os guetos e escombros, escondido dos nazistas, por vezes
em condições sub-humanas. O terço final captura certa ironia –acompanhada de
uma demonstração de humanismo –da parte de Polanski: Refugiado no sótão de um
prédio convertido em instalação provisória de oficiais nazistas, Spillmmann cai
nas graças de um oficial alemão que se sensibiliza por sua condição de
talentoso pianista relegado à subsistência humana (a cena em que o oficial,
vivido por Thomas Kretschmann, observa Spillmmann tocar magnificamente todo um
trecho musical é uma das mais emocionantes do filme) e o acoberta e alimenta
por anos até a guerra acabar: A despeito de todas as atrocidades que viu e
experimentou, Polanski ainda assim opta por fazer de um alemão um dos
personagens mais genuínos e benevolentes de todo este longa-metragem poderoso,
comovente e humano.
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