O discurso de agradecimento do diretor Jan
Sverák pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro conquistado em 1997 por
“Kolya-Uma Lição de Amor” está até hoje entre os momentos mais memoráveis da
cerimônia: Ao invés dos agradecimentos habituais e protocolares, Jan encenou um
pequeno diálogo com a estatueta (“Querido Oscar...”) protagonizando um dos
instantes mais ternos e divertidos daquela noite.
Ao assistirmos “Kolya” é possível perceber com
nitidez o quanto aquela mesma espirituosidade foi empregada na narrativa do
próprio filme.
No papel do protagonista Louka, Sverák escala
seu próprio pai, Zdnek Sverák, que é também roteirista do filme, esse
entendimento intrínseco das facetas íntimas e pessoais do personagem e da
história responde por grande parte da beleza do filme.
Frantisek Louka é um músico da cidade de Praga,
na República Tcheca no final dos anos 1980. É apolítico, mas tem lá suas rusgas
com as autoridades: Um caso de imigração envolvendo mais seu irmão do que ele
próprio o fez perder sua cadeira na Orquestra Filarmônica, onde tocava
violoncelo. Desde então, ele preenche seu apertado orçamento completando bandas
que tocam em funerais, dando algumas aulas de música para jovens alunas com
quem flerta, e restaurando inscritos desbotados nas lápides do cemitério.
É que um amigo seu –que trabalha de coveiro
–lhe faz uma proposta: Ganhar um bom dinheiro casando-se com uma imigrante
soviética; gesto que permitiria a ela adquirir cidadania tcheca e por lá poder
ficar com o filho pequeno.
Bastava Louka encenar a cerimônia, receber o
dinheiro e divorciar-se seis meses depois.
Contudo, nenhum ato de contravenção, por mais
irrisório que possa parecer, é tão simples na prática quanto o parece ser na
teoria: A “esposa russa”, num rompante inesperado, foge para o Ocidente deixando
por lá o filho pequeno, Kolya (o incrível Andrej Chalimon), restando ninguém
menos senão o relutante Louka para cuidá-lo.
Importa à narrativa de Jan Sverák menos as
razões políticas bem sedimentadas com as quais a premissa se constrói e muito
mais o afeto genuíno e o sentimento irreprimível que nasce a partir dela.
A relação do menino Kolya
com Louka é composta de pormenores tão encantadores e tão magistralmente
apresentados que a inteligente e minuciosa reconstituição dos fatos políticos
que lhe servem de pano de fundo quase passa batida ante essa trama tão humana,
pessoal e arrebatadora.
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