sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Kolya - Uma Lição de Amor

O discurso de agradecimento do diretor Jan Sverák pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro conquistado em 1997 por “Kolya-Uma Lição de Amor” está até hoje entre os momentos mais memoráveis da cerimônia: Ao invés dos agradecimentos habituais e protocolares, Jan encenou um pequeno diálogo com a estatueta (“Querido Oscar...”) protagonizando um dos instantes mais ternos e divertidos daquela noite.
Ao assistirmos “Kolya” é possível perceber com nitidez o quanto aquela mesma espirituosidade foi empregada na narrativa do próprio filme.
No papel do protagonista Louka, Sverák escala seu próprio pai, Zdnek Sverák, que é também roteirista do filme, esse entendimento intrínseco das facetas íntimas e pessoais do personagem e da história responde por grande parte da beleza do filme.
Frantisek Louka é um músico da cidade de Praga, na República Tcheca no final dos anos 1980. É apolítico, mas tem lá suas rusgas com as autoridades: Um caso de imigração envolvendo mais seu irmão do que ele próprio o fez perder sua cadeira na Orquestra Filarmônica, onde tocava violoncelo. Desde então, ele preenche seu apertado orçamento completando bandas que tocam em funerais, dando algumas aulas de música para jovens alunas com quem flerta, e restaurando inscritos desbotados nas lápides do cemitério.
É que um amigo seu –que trabalha de coveiro –lhe faz uma proposta: Ganhar um bom dinheiro casando-se com uma imigrante soviética; gesto que permitiria a ela adquirir cidadania tcheca e por lá poder ficar com o filho pequeno.
Bastava Louka encenar a cerimônia, receber o dinheiro e divorciar-se seis meses depois.
Contudo, nenhum ato de contravenção, por mais irrisório que possa parecer, é tão simples na prática quanto o parece ser na teoria: A “esposa russa”, num rompante inesperado, foge para o Ocidente deixando por lá o filho pequeno, Kolya (o incrível Andrej Chalimon), restando ninguém menos senão o relutante Louka para cuidá-lo.
Importa à narrativa de Jan Sverák menos as razões políticas bem sedimentadas com as quais a premissa se constrói e muito mais o afeto genuíno e o sentimento irreprimível que nasce a partir dela.
A relação do menino Kolya com Louka é composta de pormenores tão encantadores e tão magistralmente apresentados que a inteligente e minuciosa reconstituição dos fatos políticos que lhe servem de pano de fundo quase passa batida ante essa trama tão humana, pessoal e arrebatadora.

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