segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Na Companhia de Homens

É um pouco unilateral a afirmação de que este primeiro trabalho do diretor Neil Labutte é misógino. Claro que o discurso de repúdio às mulheres está lá, elaborado com alarmante convicção e contundência. Porém, se considerarmos que Labutte dá espaço à narrativa para uma personagem feminina expor (ainda que brevemente) seu sofrimento de modo que consiga compadecer o expectador, então podemos dizer que “Na Companhia dos Homens”, da forma como é, acaba sendo mais um registro profundo e incômodo das facetas socialmente impunes do mau-caratismo, traduzidas com eficiência no vistoso personagem de Aaron Eckhart.
O filme de Labutte consiste de uma estrutura árida e desafiadora: Um conjunto cirúrgico e econômico de diálogos muito bem dirigidos que compõem seis semanas; vindo a ilustrar, por sinal, os capítulos do filme.
Chad (Eckhart) e Howard (Matt Malloy) são executivos médios de uma empresa gerenciadora de produtos. Howard foi abandonado pela namorada e se lamenta com Chad que lhe diz ter passado pela mesma situação. Trocando figurinhas em sua recém-concluída aversão ao sexo oposto, os dois são enviados para uma negociação provisória de seis semanas em outra cidade, com Howard ocupando um cargo ligeiramente superior ao de Chad. Este tem então uma idéia: Valer-se desse período para encontrar uma mulher vulnerável que ambos possam cortejar e, ao fim do tempo estipulado, dar a ela um fora fenomenal.
Uma espécie de vingança simbólica pelo que as ex-namoradas os fizeram passar.
A escolhida em questão não tarda a aparecer: Trata-se de Christine (Stacy Edwards), a secretária surda-muda da divisão em que Chad está trabalhando.
As semanas se transcorrem com os dois dando continuidade ao plano, mas algo inesperado começa a acontecer: Por um lado, o carente e ingênuo Howard começa a se apaixonar de fato por Christine; por outro, ele e Chad, justamente por conta de seu sentimento genuíno, iniciam pouco a pouco um embate psicológico velado que se estende desde os diálogos que travam nos horários recreativos (quando esmiúçam um para o outro, ora com desdém, ora com paternalismo, os detalhes íntimos de seus encontros com Christine) até as reuniões de natureza profissional e circunstâncias trabalhistas. E em todos os casos, seja pelo charme natural do ator Aaron Eckhart, seja pela predisposição carismática e incontornável do próprio personagem, é Chad quem irá prevalecer: Aos poucos, Howard decai na hierarquia empresarial, enquanto Chad (a despeito de sua falta de escrúpulos revelada em inúmeros momentos, ou talvez, por causa dela) escala consideravelmente. Apesar da sinceridade de Howard –que em determinado ponto se torna irreprimível –é por Chad que Christine se diz, perto do fim, apaixonada; e ambos, ela e Howard, sofrerão terrivelmente por isso.
O que torna “Na Companhia de Homens” realmente perturbador não é somente a maneira notável que Labutte encontra para evidenciar a maldade e a perversidade num âmbito e num contexto em que ela pode ser exercida sem amarras e sem conseqüências (por mais terrível que seja, nada do que Chad faz pode ser qualificado como crime digno de punição), mas também ao ilustrar o fato de que, mesmo havendo indícios predatórios antes e depois de toda a sordidez ser enfim mostrada, ainda assim –como na vida real –continua e continuará sendo nas aparências que o raso ser humano buscará uma bússola para seu julgamento moral.
Nesse sentido –e até por ser, no filme, o personagem que melhor entende essa torpeza das relações humanas –o desapego de Chad faz dele um dos mais terríveis psicopatas do cinema.

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