O suspense e as reviravoltas que em parte
respondiam pelo fascínio do filme anterior são substituídos, nesta continuação,
pelas pirotecnias quase absurdas do diretor John Woo. Uma prova da intenção
clara do produtor Tom Cruise em explorar as visões e sensibilidades bastante
distintas (para não dizer divergentes) de outros realizadores.
A verdade é que o primeiro "Missão
Impossível", e este segundo são filmes completamente diferentes. John Woo
tem um estilo cuja forma, e a experimentação estética comum aos seus filmes de
ação, se sobrepõem ao conteúdo, embora o roteiro deste filme (escrito por
Robert Towne, como o anterior) contenha ramificações suficientes para manter a
atenção na história.
Desta vez, o agente Ethan Hunt é incumbido (por
seu superior ocasional, vivido aqui por Anthony Hopkins) de uma missão tida
como –veja só! –impossível: Por meio de Nyah Hall (interpretada pela bela
Thandie Newton que dividiu o elenco de “Entrevista Com O Vampiro”, com Cruise),
uma charmosa agente recrutada por ele, Hunt deve conseguir acesso a um ex-integrante
de seu time (Dougray Scott) tornado traidor e que roubou as amostras de um
vírus perigosíssimo, e planeja usá-lo como arma biológica.
O problema: Do encontro com Nyah, Hunt descobre
uma química que ele não tinha a muito tempo por mulher nenhuma! Como a missão
dela é seduzir seu inimigo, estão instaladas as razões para a aflição do
protagonista –e as peças para construir o triangulo amoroso do filme.
Mesmo com todos esses artifícios (e muitos
outros mais, cortesia do tarimbado e astucioso roteirista Towne) a direção de
John Woo –convenhamos, como em todos os seus filmes –relega a trama e suas
considerações ao segundo plano do espetáculo visual e cinético que ele
engendra: “Missão Impossível 2”, especialmente em sua segunda metade, deixa
prevalecer a inclinação para o frenesi vertiginoso que já pontuava insistente a
primeira parte. Quando a trama entra naquele ponto em que as conclusões e
amarras narrativas exigem um diretor que saiba administrar as importâncias das
diferentes facetas de um enredo, John Woo faz aquilo que se espera dele e
equilibra uma sucessão de cenas improváveis de ação que nem sempre se
harmonizam, em sua natureza mirabolante, com a trama de ramificada austeridade
que foi construída.
A personalidade do roteirista Robert Towne
(entusiasta de tramas que imbricam por meio de ganchos complexos e apresentam
diversas camadas) e do diretor John Woo (um esteta de cenas de ação onde o experimentalismo
prima pela forma e não pelo conteúdo) não encontram um ponto de equilíbrio por
meio do qual um grande filme coeso consiga se expressar.
“Missão Impossível 2” é como
um filho de pais completamente incompatíveis: É perfeitamente capaz de executar
a função que lhe cabe (divertir), mas em seu interior é visível um dilema e uma
contradição que o tornam pouco funcional.
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