Como em seu filme de estréia (e agraciado com o
Oscar) “Gente Como A Gente”, Robert Redford, na função de diretor, se mostra
interessado em observar uma família com ênfase em suas disfunções e suas
arestas de ordem dramática.
Se em “Gente Como A Gente” esse exercício tinha
por moldura a ambientação urbana, aqui ele se vale das exuberantes e
inacreditavelmente lindas paisagens do interior do estado de Montana,
capturadas com primor pelas lentes do diretor de fotografia Philippe Rousselot
(que em 1993 conquistou o Oscar na categoria).
Redford adapta o romance auto-biográfico de
Norman MacLean, embora no final das contas não se renda a obviedade de realizar
uma trama centrada num personagem só: O filme que ele constrói prefere se
atentar à dinâmica entre dois irmãos de temperamentos opostos, o mais velho e
racional Norman (Graig Sheffer), e o caçula, cafajeste e boêmio Paul (Brad
Pitt, num dos filmes que o revelaram à Hollywood).
E tão carismático é o intérprete e seu
personagem que fica difícil para o diretor sustentar seu protagonista diante de
um coadjuvante tão interessante e luminoso –por isso, a trama envolvendo uma
namoradinha em potencial (a bonitinha Emily Loyd) e seu irmão presunçoso e
vaidoso (Stephen Shellen), que ocupa uma boa parcela do filme, parece soar mais
como uma concessão do que como parte relevante do roteiro.
Em última instância, “Nada É Para Sempre” é
também a história de uma família e da união quase espiritual conquistada entre
seus membros através da arte da pescaria.
Narrando em off (a cargo do próprio Reford), e
lembrando com agridoce nostalgia os eventos, o protagonista Norman rememora a
juventude na cidade de Missoula, sob o zelo acolhedor da mãe (Brenda Blethyn) e
o rigor amoroso do pai (Tom Skeritt), um pastor presbiteriano.
Entretanto, toda e qualquer rigidez típica das
famílias conservadoras do início do século XX é burlada pela personalidade
intensa e irreprimível de Paul, por vezes mostrado como alguém que tinha
coragem para fazer tudo o que seu irmão mais velho não fazia.
Tradição passada através das gerações e
abraçada pelos filhos como um ato de técnica e prazer, a pescaria é mostrada
como um ritual de beleza singular. Em algum momento, a narrativa de Redford
deseja encontrar nisso uma linda metáfora sobre as relações familiares, sobre a
beleza de não se curvar por inteiro às convenções e conservar uma saudável
petulância, e sobre o fluxo do rio em paralelo ao da própria vida, mas seu
filme sente a pressão de tal intento e falha em alguns aspectos.
Nada, contudo, que deixe de
fazer dele uma bela realização.
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