Por mais improvável que possa parecer haviam
argumentos que isentavam o diretor Neil Labute das acusações de misoginia em
seu primoroso e corrosivo "Na Companhia de Homens"; e eles em geral
estavam relacionados na retrato austero, humano e crível da única personagem
feminina da trama.
É o próprio Neil Labute quem abre mão dessas
ressalvas ao criar neste "Arte, Amor e Ilusão" um dos mais incisivos
e subversivos ataques ao sexo oposto já materializado em filme, mostrando as
mulheres como seres de uma crueldade atroz.
Valendo-se da mesma objetividade cirúrgica de
seu mais audaz trabalho (mas, desprovido da excelência que ostentou nele),
Labute estabelece a enxutíssima narrativa num conjunto de atos que se sucedem
em cortes rápidos e ilustram a situação que ele deseja expor de maneira
sucinta, sem espaço para considerações paralelas, e isso tudo começa no museu
onde tímido e acanhado Adam (Paul Rudd, o “Homem-Formiga”) trabalha como vigia.
É lá, num dos turnos da noite que ele encontra Evelyn (a linda e metódica
Rachel Weisz), uma artista plástica que comportamento (ou, pelo menos, de
discurso) notadamente anarquista e idealista tentando pichar um quadro de museu
(!).
Contra as probabilidades, Adam começa a namorar
com Evelyn (note a conotação bíblica e primitiva no nome dos dois protagonistas),
ao passo que ela provoca uma transformação no comportamento dele e na sua relação
com um casal de amigos (vividos por Gretchen Mol e Fred Weller).
Embora a narrativa de Labute engane o
expectador com uma condução serena, sugerindo normalidade, perto do fim, uma
surpresa das mais desagradáveis aguarda o expectador e os personagens.
E, a partir deste ponto, o texto vai revelar as
surpresas que o filme reserva em seu terceiro ato, por isso, se não viu o filme
e não quiser saber, não leia a partir daqui!
Pois bem, a restar uns vinte minutos para o seu
desfecho (o filme é enxutíssimo, tem apenas noventa e seis minutos de duração),
pouco depois que Adam pede Evelyn em casamento, a narrativa se ocupa de mostrar
uma alardeada apresentação de arte promovida por Evelyn, quando Labute dá então
seu derradeiro (e devastador) golpe final: Ela revela que, na verdade, todo o
namoro e o relacionamento que tiveram nos últimos meses fez parte de uma
espécie de experimento que ela realizou, onde tentou (e conseguiu) ilustrar o
modo como uma pessoa é capaz de se metamorfosear sob influência de outra. Não apenas
isso, mudar até mesmo as relações que tinha antes.
A revelação em si é chocante quando o filme
chega nesse momento, ainda mais porque o diretor e a atriz não economizaram
esforços para fazer o próprio expectador gostar da personagem, e porque a
partir desse trecho a expressão dela de frieza para com a manipulação
sentimental que realizou é de uma crueldade que a iguala ao personagem de Aaron
Eckhart em “Na Companhia de Homens”.
Chega a doer no coração quando o personagem de
Paul Rudd pede de volta a ela o anel de noivado que foi de sua avó e ela
afirma, impassível, que quando a exposição acabar o entregará de volta.
Tão exasperante é o efeito que este filme de
Labute suscita no expectador que é difícil dizer o que exatamente ele quis com
ele: Um retrato contundente da falta de empatia? Uma triste constatação dos
efeitos unilaterais do amor? Ou um misógino exemplo de pesadelo masculino feito
para chocar?
As três coisas
provavelmente, ainda que, estando ele certo ou não, isso não rendeu uma obra à
altura de seus melhores trabalhos.
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