O fundo do poço, para o diretor e roteirista M.
Night Shyamalan, após uma tentativa de fugir à sua fórmula com o estranho “A
Dama Na Água” representou ser este equivocado “Fim dos Tempos”.
Após as críticas negativas e o desinteresse do
público no filme anterior, Shyamalan decidiu recorrer ao mesmo molde pelo qual
havia urgido os bem-sucedidos “O Sexto Sentido”, “Corpo Fechado”, “Sinais” e “A
Vila”. E ele seguiu a receita à risca: Como nos outros, escalou um ator de
filmes de ação (Mark Wahlberg) como forma de surpreender o público num
personagem dramático; administrou seu estilo parcimonioso –indiferente às cenas
de ação –para se ocupar de uma trama de conotações fantásticas e fantasiosas,
mas ainda sim um reflexo de celeumas e inquietações bem reais (uma espécie de
episódio da série “Além da Imaginação” estendido para o cinema); e ainda tentou
introduzir uma pretensa revelação infantil, nos moldes do que fez com Haley
Joel Osment –a péssima e inexpressiva Ashlyn Sanchez.
Embora tenha organizado os ingredientes com
rigor até excessivo, a mistura mostrou-se pouco harmoniosa em relação aos seus
bons trabalhos.
“Fim dos Tempos” fala sobre uma praga
desconhecida que assola a humanidade –o mais próximo, portanto, que Shyamalan e
seu peculiar cinema se aproximam de um filme-catástrofe. Na premissa bolada
pelo autor, um surto coletivo de suicídios domina os grandes centros urbanos
começando pelas cidades da Costa Oeste dos EUA. Na Philadelphia (local que é
uma referência constante nos trabalhos de Shyamalan), um professor de
matemática (Wahlberg) junto da esposa (Zooey Deschanel, deslocada) e de sua
sobrinha (a menina Ashlyn), inicialmente acompanham a onda de pessoas perdidas
e assustadas dispostas a fugir desse mal, que a princípio pensam tratar-se de um
ato terrorista.
É, na realidade, uma vingança das próprias
árvores (!) contra o desmatamento: Na concepção do diretor (que sua impostação
e sua pretensão fazem ser tão ridícula quanto parece), as plantas,
identificando na humanidade um inimigo que as ameaça há milênios desenvolvem
uma enzima que se espalha pelo ar e que interfere no cérebro humano, levando as
pessoas ao suicídio.
Mais uma parábola, portanto, muito particular
de M. Night Shyamalan sobre a humanidade e o próprio gênero de terror e
suspense que adotou, onde ele lança mão de cenas um pouco mais gráficas –no
lugar da sugestão que predominou nas obras anteriores –como as intermináveis (e
mórbidas) seqüências de suicídio (pessoas se jogando dos prédios, deitando na
frente de cortadores de grama e tirando a vida das mais diversas maneiras) ou
os momentos de tensão quando os personagens ficam na expectativa da chegada silenciosa
do vento (elemento que afinal transporta a enzima suicida!). No entanto, o
filme acaba ficando na memória mesmo por suas cenas constrangedoras, como o
diálogo do personagem de Mark Wahlberg com uma samambaia –é sério, isso
acontece mesmo!
Tudo, porém, piora muito
mais quando chegamos aos quarenta minutos finais, e Shyamalan desleixadamente
parece deixar de lado o filme irregular que construía até então para colocar os
personagens numa situação distinta repleta de acontecimentos sem sentido –uma casa
isolada, onde a moradora oferece abrigo para então revelar-se excêntrica e
psicótica (vivida por Betty Buckley, que também aparece em “Fragmentado”): Na
verdade, esse trecho esquisito, mal amarrado ao restante da premissa e
desagradavelmente inesperado é baseado num curta-metragem de Shyamalan, e foi
colocado ali para aumentar a duração do filme somente.
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