Neste filme inusitado de absurda e esmagadora
sinceridade que nos é apresentado, Jean Claude Van Damme, como se sabe, é um
famoso astro de filmes de ação e artes marciais, na pior fase de sua já
decadente carreira –e por aí já se nota muito da proposta do filme: A de
vislumbrar a realidade ou de, pelo menos, simulá-la com convicção inabalável ao
seu público.
Embora interprete a si mesmo nos mais íntimos e
inacreditáveis níveis, o protagonista haverá de se deparar com um enredo que a
ele reserva o supra-sumo do sarcasmo e da ironia: Após uma exaustiva filmagem
de cena de ação onde descobre da pior maneira que não tem mais o vigor físico
de outrora (encenada, por sinal, com brilhantismo), Van Damme vai parar numa
agência bancária da Bélgica (seu país natal) no exato momento em que ela é
assaltada.
Torna-se refém pelos bandidos, junto com as demais
pessoas lá dentro, entretanto, do lado de fora, a polícia e a opinião pública
passam a acreditar ser ele o próprio seqüestrador (!), alimentados pelo teor
absurdo que cerca as celebridades e pelos altos e baixos bizarros que sua
carreira sofreu.
Os bandidos –jovens desesperados,
inconseqüentes, mas não necessariamente estúpidos – irão se valer disso, para
jogar a culpa sobre ele e tentar escapar.
Esses aspectos e a maneira desigual e hábil com
que são empregados fazem deste, talvez, o único filme genuinamente emocionante
que Van Damme fez em toda sua carreira: Um trabalho audaz de metalinguagem onde
ele interpreta corajosamente a si mesmo, arcando com todos os revezes absurdos
de um astro que ascendeu nos anos 1980 –a década dos filmes descerebrados de
ação –e que, ao contrário de seus pares, como Schwarzenegger e Stallone, não
conseguiu administrar a carreira de modos a permanecer minimamente relevante a
partir da década de 1990.
Em meio à comédia com freqüência cruel que o
filme, dirigido com surpreendente maestria pelo jovem Mabrouk El Mechri, parece
querer extrair dessa premissa, há espaço de sobra para seu momento mais
memorável –e quiçá uma das cenas mais devastadoras já filmadas: Um monólogo
comovente de 10 minutos de duração de seu astro, onde a narrativa é
deliberadamente interrompida e Van Damme corajosamente se expõe, olhando
diretamente para a câmera, colocando sua vida, seus erros, e suas esperanças às
claras para o expectador.
Ele pode não ser um grande
ator, pode não ter feito nenhum grande filme (além deste, talvez), mas
provavelmente, depois de vê-lo aqui, você pode até passar a ter um certo afeto
por ele.
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