sexta-feira, 30 de março de 2018

O Massagista

O diretor inglês Nicolas Roeg já esteve entre os grandes de sua geração, como atesta a espetacular seqüência de obras grandiosas e donas de um estilo refinado, poderoso e honesto que ele engendrou na década de 1970: “Walkabout-A Grande Caminhada”, “Inverno de Sangue Em Veneza” e “O Homem Que Caiu Na Terra”.
Nos anos 1980, sua relevância prosseguiu gradativamente se diluindo em desiludidos trabalhos no cinema comercial (“Malícia Atômica”, “A Convenção das Bruxas”, “Inferno Ou Paraíso”, “Track 29”) até quase minguar.
Nesta obra lançada nos anos 1990, há pouco o que relacionar aos grandiosos e primordiais trabalhos do início de sua filmografia, mas ainda se nota em sua postura um inconformismo para com as convenções de linguagem que norteiam o cinema comercial, ainda que esse questionamento, aqui, se expresse com alguma timidez.
“O Massagista” –ou “Full Body Massage” –é um drama intimista com elementos que poderiam soar teatrais não fosse o talento de Roeg, e não deixa de ser bastante irônico mencionar a timidez da parte de seu diretor quando ele propõe uma encenação tão despojada: A já madura atriz Mimi Rogers se expõe em cenas de nudez contundente neste filme rivalizando (apenas no que diz respeito à nudez mesmo) com o que a francesa Emmanuelle Beart fez em “A Bela Intrigante”.
Mimi é Nina, uma empresária de artes plásticas cuja solidão contumaz do dia-a-dia é contornada em sessões semanais de massagem relaxante.
Um contratempo, porém, impede seu massagista regular de comparecer à sessão e ele envia outro no lugar, o taciturno Fitch (Bryan Brown, ator australiano de “Breaker Morant”, “Nas Montanhas dos Gorilas” e “F/X-Assassinato Sem Morte”).
Fitch é metódico, objetivo e enérgico. Esse distanciamento inicial deixa Nina profundamente relutante em submeter-se às suas massagens e a entregar-se à intimidade de ter seu corpo nu tocado por um completo desconhecido.
Ao ceder ao pontual profissionalismo dele, Nina pouco a pouco se desnuda –literalmente e figurativamente –descobrindo assim uma inesperada compatibilidade.
É um exercício bastante incisivo de execução e estilo onde nota-se a apurada compreensão de personagens da parte do diretor Roeg; Nina e Fitch são almas solitárias, naquilo que julgam ser o limiar de uma vida sem relacionamentos. Para ambos, o toque físico proporcionado pela atividade da massagem –da parte dele como servidor e dela como cliente –possui, ainda assim, um breve instante de compensação no contato corporal que promove.
Mantendo sua câmera atenta a esse jogo de corpos (que é, de certa maneira, um jogo também de sedução), o diretor justapõe nos diálogos uma analogia que coloca a sessão de massagem também como uma terapia, na qual não apenas Nina, mas também Fitch irão se despir sentimentalmente um para o outro.
Longe de ser igualmente marcante como outros trabalhos já assinados por Roeg, “O Massagista” acima de tudo destaca a coragem de Mimi Rogers na sua entrega à personagem e às cenas despudoras que o filme exige dela.

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