segunda-feira, 23 de abril de 2018

Viva - A Vida É Uma Festa

É de um notável paradoxo que a Pixar tenha feito um filme sobre a morte e sobre o Dia de Los Muertos, no México, e que, no entanto, pulsa de vida.
Contudo, é exatamente essa a linda ironia que eles nos entregam: Há muitas gerações passadas, a matriarca da família de Miguel instaurou uma espécie de tradição; nada de música ou cantoria dentro de casa –fruto da imensa decepção que ela teve com seu grande amor, um músico que preteriu ela e a filha em favor da carreira e desapareceu.
Muitos e muitos anos passados, a tal filha, Inês (Coco, no original) é bisavó de Miguel, cuja família ao renegar a música desenvolveu habilidade em sapataria.
Entretanto, Miguel tem um dom nato para cantar, herdado certamente de seu tataravô –que ele acredita ser o idolatrado Ernesto de La Cruz, o grande cantor mexicano.
No Dia de Los Muertos –quando as famílias depositam oferendas às fotos de seus parentes mortos para que seus fantasmas venham visitá-los –Miguel decide roubar o violão do mausoléu de Ernesto de La Cruz para tocar num show de talentos. Ao primeiro dedilhar, porém, Miguel é transportado para o Mundo dos Mortos. Lá, ele encontra seus familiares mortos, incluindo sua rígida tataravó, e um problema: Deve obter a benção de seu tataravô para voltar ao Mundo dos Vivos e tornar a cantar.
Mas, a verdade que morreu com alguns dos membros de sua família é mais profunda e complexa do que Miguel pode imaginar. E, agora, ele deve lutar para trazer essa verdade ao Mundo dos Vivos a fim de corrigir algumas injustiças e não deixar que certas lembranças se percam para sempre.
Diferente do oitentista “Footlose” –com o qual a premissa guarda alguma semelhança –cujo tema serve para um musical sobre choque de gerações e um descontraído romance que enaltece a rebeldia juvenil, “Viva-A Vida É Uma Festa” vai muito mais além e fala sobre valores de família passados através de gerações, sobre a importância da cultura e da memória; e nesse sentido há nele um paralelo com o próprio cinema.
Como no recente “Divertida Mente” ou em “Toy Story 3” (dirigido, aliás, pelo mesmo Lee Unkrich) a Pixar cria mais um espetáculo visual que se põe à frente de tudo que fizeram antes (grandes exemplos desse arrojo são a ponte constituída de pétalas de flor que liga o Mundo dos Vivos e o dos Mortos, e a reluzente favela dos mortos, riquíssima em detalhes feitos com amor), mas ainda assim o ancora numa trama cheia de inteligência, simpatia e inquestionável poder de emocionar; a cena, perto do final, em que Miguel canta para a bisavó a música vencedora do Oscar2018 de Melhor Canção, “Lembre de Mim” é um momento de pura emoção que acompanhará o expectador muito tempo depois do filme ter se acabado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário