É quase impossível imaginarmos o diretor Sydney
J. Furie, que perpetrou o péssimo “Superman IV-Em Busca da Paz”, realizando uma
obra tão saborosa, funcional e interessante como esta. Mas, “Os Rapazes da
Companhia C” está aí para provar que tais milagres acontecem, sim.
É curioso como este filme de guerra, também ele
ambientado no Vietnam, passa uma certa similaridade à “Nascido Para Matar”, de
Stanley Kubrick, lançado anos depois. A estrutura é quase a mesma guardadas as
devidas proporções e as diferenças extremas de estilo e técnica dos dois
diretores.
No início, “Os Rapazes da Companhia C” introduz
um a um de seus personagens quando estão no carro, em meio à última despedida
de seus entes queridos antes de seguir para o treinamento como fuzileiros
navais: O negro bom de briga e imponente Tyrone (Stan Shawn, fantástico), o
jovem metido a escritor Alvin (James Canning), o romântico Pike (Andrew Stevens),
o irrequieto Fazio (Michael Lembeck), o hippie Bisbee (Craig Wasson) e outros
mais.
Jovens vindos de todas as classes sociais e de
todas as diferentes circunstâncias e condições de vida da América.
Ao longo do período de treinamento –que ocupa
pouco mais do primeiro terço de filme –outra similaridade com “Nascido Para
Matar”: J. Lee Ermey, também aqui, interpreta um general linha dura, porém num
registro mais moderado e menos propenso à caricatura do que no filme de
Kubrick; a narrativa de Furie, democrática, procura não enfatizar ideologias
mostrando tanto os jovens soldados quanto os bravos militares com o máximo de
humanidade. Durante o treinamento, conforme os cadetes vão se conhecendo uns
aos outros, Tyrone mostra-se pouco interessado em trabalho de equipe; sua
intenção é sobreviver somente; uma atitude que a evolução do relacionamento com
os companheiros e a sensatez inerente a ele próprio tratarão de mudar.
Quando o filme finalmente adentrar o momento em
que os personagens são arremessados na realidade da guerra, Tyrone já é o
personagem que chama para si a responsabilidade de manter o grupo unido, mesmo
diante do inesperado vício em heroína de Pike, da indiferença quase lesada de
Bisbee, e das rixas inesperadas e imaturas entre Alvin e Fazio.
É quando o diretor Furie assume uma postura
mais crítica, bem de acordo com muitos dos realizadores que abordaram a Guerra
do Vietnam: Os soldados, com frequência, sentem-se impotentes diante das ordens
equivocadas e estapafúrdias de seus oficiais que só pensam em atingir uma
espécie de cota de “contagem de corpos inimigos” e se mostram completamente
ignorantes da realidade prática do combate.
É com esses dilemas que Furie irá trabalhar até
o final do filme, numa forma até interessante de simplificar as complicadas e
desagradáveis circunstâncias políticas que envolveram aquela guerra. O trecho final
de “Os Rapazes da Companhai C” coloca seus protagonistas diante de um novo e
curioso impasse: Chamados a disputar uma partida de futebol (o nosso fuebol
mesmo, não o futebol americano!) contra os vietnamitas, eles são instruídos por
seu coronel corrupto a entregar o jogo aos adversários a fim de fazer lá uma
média com um militar vietnamita mostrado, pouco antes, como um fornecedor de
drogas.
Se perderem, estarão garantindo o retorno para
casa sãos e salvos, contornando os revezes da batalha; se ganharem terão
preservado sua dignidade.
Furie conduz essa questão, que engloba inúmeros
valores norte-americanos, atento às noções morais que a guerra torna fluidas e
ambíguas, e o faz impregnando seu filme de empatia e seus personagens de um
fulgor inesperado.
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