segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Godzilla


A vontade do ótimo diretor Garreth Edwards em emular Steven Spielberg é tanta que ele a extrapola: As cenas que sugerem a presença do famoso monstro nas quais mais se sugere do que se mostra remetem imediatamente às cenas elaboradas em “Jurassic Park” e principalmente em “Tubarão”.
Jovem e talentoso, Edwards (cujo crédito como realizador do interessante e independente “Monstros” certamente viabilizou seu passe para este projeto) compreendeu que havia a necessidade de uma referência cinematograficamente mais salutar nesta nova versão do cultuado lagartão hipônico depois da péssima produção de 1998, dirigida por Rolland Emmerich.
E Edwards dá a cara à tapa: Honra não apenas as lições de Spielberg como também realiza uma cena inteira com a arrepiante trilha sonora de Ligety para “2001-Uma Odisséia No Espaço”, de Kubrick; confere ao seu filme um elenco povoado de rostos não só famosos, mas indiscutivelmente competentes (o japonês Ken Watanabe, a inglesa Sally Hawkins, Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Bryan Cranston, Julliete Binoche); e finca o pé numa caracterização absolutamente fiel ao Godzilla no designer que ele se apresenta nos filmes originais –mesmo aqueles que padeciam de uma produção rudimentar.
Um longo prólogo (que dura mais do que o necessário) mostra os personagens de Cranston e Binoche (que infelizmente não têm tempo de tela o bastante) às voltas com uma estarrecedora descoberta dele: Após sucessivas pesquisas, uma raça desconhecida de monstros que se alimentam de radiação, os Mutos, é descoberta (e despertada) no Japão.
Anos depois do ocorrido –que a própria corporação envolvida no caso mantém cercada de mistério –e com as investigações à cargo do filho dos envolvidos naquele ocorrido (o papel de Aaron Talor-Johnson), os monstros retornam, agora nos dias atuais, novamente reanimados por radiação. E desta vez, sua sanha de destruição se revela implacável e inacobertável!
Ao mesmo tempo, surge uma criatura abissal e imensurável: o Godzilla. Rastreando esses perigos catastróficos em potencial, as autoridades norte-americanas elaboram o único plano possível: confrontá-los com suas mais poderosas armas.
Entretanto, a saída talvez esteja em permitir que o próprio Godzilla dê cabo de todos eles.
Além da luxuosa produção –que não poupa esforços ao estender a trama para diversos continentes numa notável escala global –e da sua peculiar percepção das cenas de destruição, bem como a forma pouco usual de reger o drama, que conferem sabor ao filme, o trabalho de Edwards ostenta uma nítida intenção de afastar-se às comparações com o “Godzilla” de Emmerich, e nesse esforço de se levar a sério acaba gerando uma estranha incongruência entre a sisudez de sua narrativa (e na seriedade compenetrada de seus intérpretes) e a natureza escapista do filme; Godzilla, afinal, ainda é um lagarto gigante de obras com apelo infanto-juvenil de matinê.
Se falta algum senso de humor para lembrar esse detalhe, o filme de Edwards ao menos compensa esse estoicismo com um belíssimo refinamento.

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