A vontade do ótimo diretor Garreth Edwards em
emular Steven Spielberg é tanta que ele a extrapola: As cenas que sugerem a
presença do famoso monstro nas quais mais se sugere do que se mostra remetem
imediatamente às cenas elaboradas em “Jurassic Park” e principalmente em
“Tubarão”.
Jovem e talentoso, Edwards (cujo crédito como
realizador do interessante e independente “Monstros” certamente viabilizou seu
passe para este projeto) compreendeu que havia a necessidade de uma referência
cinematograficamente mais salutar nesta nova versão do cultuado lagartão
hipônico depois da péssima produção de 1998, dirigida por Rolland Emmerich.
E Edwards dá a cara à tapa: Honra não apenas as
lições de Spielberg como também realiza uma cena inteira com a arrepiante
trilha sonora de Ligety para “2001-Uma Odisséia No Espaço”, de Kubrick; confere
ao seu filme um elenco povoado de rostos não só famosos, mas indiscutivelmente
competentes (o japonês Ken Watanabe, a inglesa Sally Hawkins, Aaron
Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Bryan Cranston, Julliete Binoche); e finca o
pé numa caracterização absolutamente fiel ao Godzilla no designer que ele se
apresenta nos filmes originais –mesmo aqueles que padeciam de uma produção
rudimentar.
Um longo prólogo (que dura mais do que o
necessário) mostra os personagens de Cranston e Binoche (que infelizmente não
têm tempo de tela o bastante) às voltas com uma estarrecedora descoberta dele: Após
sucessivas pesquisas, uma raça desconhecida de monstros que se alimentam de
radiação, os Mutos, é descoberta (e despertada) no Japão.
Anos depois do ocorrido –que a própria
corporação envolvida no caso mantém cercada de mistério –e com as investigações
à cargo do filho dos envolvidos naquele ocorrido (o papel de Aaron
Talor-Johnson), os monstros retornam, agora nos dias atuais, novamente
reanimados por radiação. E desta vez, sua sanha de destruição se revela
implacável e inacobertável!
Ao mesmo tempo, surge uma criatura abissal e
imensurável: o Godzilla. Rastreando esses perigos catastróficos em potencial,
as autoridades norte-americanas elaboram o único plano possível: confrontá-los
com suas mais poderosas armas.
Entretanto, a saída talvez esteja em permitir
que o próprio Godzilla dê cabo de todos eles.
Além da luxuosa produção –que não poupa
esforços ao estender a trama para diversos continentes numa notável escala
global –e da sua peculiar percepção das cenas de destruição, bem como a forma
pouco usual de reger o drama, que conferem sabor ao filme, o trabalho de
Edwards ostenta uma nítida intenção de afastar-se às comparações com o
“Godzilla” de Emmerich, e nesse esforço de se levar a sério acaba gerando uma
estranha incongruência entre a sisudez de sua narrativa (e na seriedade
compenetrada de seus intérpretes) e a natureza escapista do filme; Godzilla,
afinal, ainda é um lagarto gigante de obras com apelo infanto-juvenil de matinê.
Se falta algum senso de humor para lembrar esse
detalhe, o filme de Edwards ao menos compensa esse estoicismo com um belíssimo
refinamento.
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