quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Surpresa Em Dobro


Tendo realizado em conjunto o relativamente bem sucedido “Motoqueiros Selvagens”, o diretor Walt Becker e o astro John Travolta tornaram a se juntar para mais uma comédia, desta vez com o acréscimo de Robin Williams –que ocasionalmente funciona muito bem no papel do homem ingênuo vítima dos estratagemas do amigo entusiasmado.
A verdade é que “Surpresa Em Dobro” era uma espécie de celebração da família Travolta: Além do próprio patriarca, estão no elenco sua esposa, a bela Kelly Preston (curiosamente num papel que quase nunca interage com ele), e sua filha Ella Blue Travolta.
Antes de seu lançamento nos cinemas, contudo, houve a tragédia do falecimento de um dos filhos do casal, Jett Travolta, o que nublou consideravelmente o desempenho do filme.
Mesmo que não tivesse ocorrido tal fatalidade, dificilmente o filme escaparia da indiferença de público e crítica: Longe da graça natural de “Motoqueiros Selvagens”, o filme tem um humor pedante, e a construção cômica de suas situações penam pela falta de ritmo e pela equivocada direção de atores.
Amigos desde a juventude, os executivos Dan (Robin Williams) e Charlie (Travolta, revelando-se até mais engraçado que Williams) sempre cultivaram atitudes diferentes: Se Dan é acanhado, tímido e muitas vezes passivo no que diz respeito, inclusive, às mulheres, Charlie faz o estilo playboy, com uma suíte impecável e artimanhas elaboradas o tempo todo para pegar mulheres –em meio às quais seu hesitante amigo já se habitou a levar a pior.
É uma dinâmica comum em diversas comédias já vistas no cinema (como esquecer a dupla Jack Lemmon e Walter Mathau?) e que, neste caso, também se estendeu para o âmbito profissional: Os dois estão, por sinal, prestes a fechar um negócio milionário com ricos investidores japoneses.
É quando uma inesperada (pra não dizer, absurda!) aventura do passado volta para mudar a vida de Dan: Há sete anos atrás, incentivado por Charlie, como sempre, Dan tentou curar as dores de um divórcio com uma noitada em Miami, onde conheceu Vicky (Kelly Preston).
Sete anos depois, a mesma Vicky reaparece com um casal de gêmeos (?!), frutos das estripulias daquela mesma noite.
De maneira até um tanto esquemática para a espontaneidade que se pretende, a confusão está assim armada: Antes comiserativamente sozinho e reclamão, Dan agora tem um casal de filhos para cuidar –Vicky, à propósito, terá de cumprir detenção de duas semanas na cadeia devido à uma infração banal (como é, também banal, a explicação para tal situação) –tudo isso no período em que os investidores japoneses visitarão os EUA. O quê exigirá hospitalidade e esforços redobrados de Dan e Charlie, além de seu sócio, Ralph (Seth Green, dono da cena mais hilária do filme).
Na condução e na construção de sua farsa –que passa por um condomínio de solteiros que não admitem crianças; uma colônia de escoteiros administrada por malucos (Matt Dillon, entre eles); e uma sucessão de eventualidades envolvendo os incautos japoneses –o filme comete uma série de equívocos que vão minando sistematicamente sua qualidade e provocando um esgotamento na paciência do expectador.

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