Numa jornada de origem das mais interessantes
do cinema moderno –e que gabaritou o diretor Sam Raimi para assumir a direção
de “Homem-Aranha”, anos depois –quando vemos o ator Liam Neeson personificar
aquele que será conhecido como “Darkman”, lá quase na metade do filme, notamos
que as influências de Raimi não poderiam se apresentar mais explícitas,
declaradas e apaixonadas: O filme remete imediatamente à “O Fantasma da Ópera”,
à “O Abominável Dr. Phibes”, e às histórias em quadrinhos de terror, e sua
narrativa inventivamente visual, carregada de detalhes por quadro, com a qual
Raimi conduz este seu verdadeiro espetáculo.
Lembrado então como o jovem que chacoalhou o
mainstream cinematográfico americano com um produto de baixíssimo orçamento
vindo das fileiras do terror alternativo (o emblemático “Evil Dead”), mas cuja
repercussão foi forte o bastante para influenciar o cinema comercial, Raimi
havia feito pouco mais que a alucinada comédia “Crime Wave” e a continuação de “Evil
Dead” antes de realizar esta que pode ser enxergada como sua primeira incursão
no cinema comercial de fato.
Nesse sentido, “Darkman”, apesar da estética
anos 1990 que pulsa de suas transparentes intenções, é um filme até profético
nas características que agrega para moldar seu apelo de público, já que
elementos como personagens de histórias em quadrinhos, ou mesmo o teor
divertidamente referencial que tempera a narrativa, só seriam assimilados, e
empregados em profusão pela indústria, muitos anos depois.
Poucos anos antes de ter sua indicação ao Oscar
de Melhor Ator por “A Lista de Schindler” –e décadas antes de redescobrir-se
como um eficaz ator veterano de ação –Liam Neeson interpretou Peyton Westlake,
o trágico herói que Raimi confronta com o tipo de tragédia mirabolante
reservada aos seus protagonistas: Cientista, ele é atacado e seu laboratório, explodido.
Sobrevivendo por milagre (ainda que dado como morto), Peyton tem seu rosto
desfigurado e perde a capacidade de sentir dor –aspectos que Raimi usará
convictamente para encaixar num contexto de ‘superpoderes’.
Pois, Peyton foge, reconstroí o que pode de seu
antigo laboratório e busca dar continuidade à suas pesquisa para criar uma pele
humana sintética. Agora, mais do que nunca, ele precisará disso se quiser se
apresentar com um rosto humano à mulher que ama, intepretada pela sensacional
Frances McDormand.
Entretanto, como cabe a um superherói, a
personagem de McDormand tem também lá seus apuros dos quais ser salva: Ela é
perseguida por um grupo de criminosos contratados, os mesmos, por sinal, que
destruíram a vida de Peyton.
A vingança e a necessidade que salvar a amada
são assim as motivações para Peyton iniciar um intrincado plano para minar e
destruir um a um os integrantes daquela quadrilha; e é absolutamente
espetacular ver o que o diretor Sam Raimi (no auge de sua empolgação e juventude
criativa) faz para que o filme siga adiante: Ele não economiza técnicas,
truques visuais e outros artifícios para fazer de cada cena uma surpresa visual
aos olhos do público.
Divertidíssimo, agitado, certamente inventivo e
vibrante –ainda que ocasionado por insensibilidades latentes de um diretor
vindo dos extremos do terror –“Darkman” foi um sopro de renovação e ar fresco
muito bem-vindo numa época em que o cinema (e o público) carecia de alguma
novidade.
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