Eis uma comédia que, pode-se dizer, leva o
absurdo de sua premissa às últimas consequências.
Numa simulação de realidade que frequentemente
serve à seus propósitos cômicos, o comediante (e, aqui, tanto ator como
diretor) Seth Rogen interpreta a si mesmo.
Ou seja, ele é um ator famoso –e já no início
indagado do porque interpreta sempre o mesmo personagem –à espera de um amigo
no aeroporto de L.A.
Esse amigo vem a ser jay Baruchel –que
contracenou com Rogen em “Ligeiramente Grávidos” e faz parte, de fato, de seu
círculo de amizades –e eles se reencontram depois de um longo tempo. Jay,
embora também ator, é um pouco avesso ao modo de vida predominante na
Califórnia. Seus planos são passar o tempo com seu amigo –e nisso o filme não
tem pudores em suscitar todos os maneirismos de comédias sentimentais sobre
amigos e parceiros; o quê Seth Rogen (que divide a direção com Evan Goldberg)
parece prezar muito em sua filmografia.
Os planos de Jay, contudo, são frustrados: Seth
não tarda a carregá-lo para uma festa promovida pelo astro James Franco em sua
nova mansão. E, lá, não é somente James Franco que aparece interpretando uma
versão impiedosamente caricatural e hedonista de si próprio: Vemos também a
cantora Rihanna, os atores Jason Segel, Emma Watson e Michael Cera (numa versão
terrivelmente irresponsável, inconsequente e promíscua do que supostamente
seria o comportamento de um ator famoso), e os essenciais ao filme, Jonah Hill
e Craig Robinson –todos, sem sombra de dúvidas, saídos do grupo de confiança de
Rogen.
Até então, “É O Fim” não aparenta ser mais que
uma comédia esquisita e um pouco ousada que flerta com as impressões da fama.
Entretanto, ao acompanhar a decisão de Jay em ir a uma loja de conveniência junto
de Seth, o filme entregará sua assombrosa guinada: Após um desastroso
terremoto, raios azuis irrompem o céu (!) e capturam pessoas específicas entre
a população. Uns são assim misteriosamente levados, outros ficam para ver a destruição
que se segue por fogo e desmoronamento.
Na casa de Franco, contudo, ninguém percebeu o
ocorrido (!!).
Após convencê-los –numa situação na qual a
narrativa enfatiza o rídiculo da questão –alguns dos famosos citados até morrem
(!) despencando num enorme buraco flamejante (nessa cena, temos também a
aparição breve de Paul Rudd, o “Homem-Formiga”).
Rogen, Baruchel, Franco, Hill e Robinson têm a
ideia de ficar na mansão de Franco, sobrevivendo com a água e a comida que há
lá –isso até descobrirem que junto com eles está também o espaçoso e
inconveniente (e, com frequência, o mais engraçado do filme) Danny McBride.
Forçados ao convívio, todos esses personagens,
dotados do pouco de sensatez que têm, procuram racionalizar a situação: Ao que
parece o Apocalypse Bíblico ocorreu, com o arrebatamento das almas boas e tudo
o mais, e à eles, atores famosos, só restou experimentar o inferno na Terra
(!).
O roteiro (do próprio Rogen) especula os
desdobramentos realistas dessa situação certamente nada realista, embora explicíta
a partir da definição da crença de muitas pessoas –e ainda que de certo o filme
não almeje controvérsia na abordagem indireta da religião, ele sem dúvidas não
a evita.
A verdade é que, em sua galhofa incontrolável,
não dá para levar “É O Fim” muito à sério.
Mesmo nos momentos em que se pretende tenso,
por exemplo, o filme conduz deliberadamente ao riso; um riso nervoso é bem
verdade, mas riso ainda assim.
Uma mescla de comédia adolescente e debochada,
referências improváveis, improvisão encorajada e solta e uma certa coragem
inconsequente, este trabaho é, como outros assinados por Rogen, um exemplo do
estilo muito peculir e significativo de um autor em meio à mesmice da comédia
norte-americana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário