quinta-feira, 9 de agosto de 2018

É O Fim


Eis uma comédia que, pode-se dizer, leva o absurdo de sua premissa às últimas consequências.
Numa simulação de realidade que frequentemente serve à seus propósitos cômicos, o comediante (e, aqui, tanto ator como diretor) Seth Rogen interpreta a si mesmo.
Ou seja, ele é um ator famoso –e já no início indagado do porque interpreta sempre o mesmo personagem –à espera de um amigo no aeroporto de L.A.
Esse amigo vem a ser jay Baruchel –que contracenou com Rogen em “Ligeiramente Grávidos” e faz parte, de fato, de seu círculo de amizades –e eles se reencontram depois de um longo tempo. Jay, embora também ator, é um pouco avesso ao modo de vida predominante na Califórnia. Seus planos são passar o tempo com seu amigo –e nisso o filme não tem pudores em suscitar todos os maneirismos de comédias sentimentais sobre amigos e parceiros; o quê Seth Rogen (que divide a direção com Evan Goldberg) parece prezar muito em sua filmografia.
Os planos de Jay, contudo, são frustrados: Seth não tarda a carregá-lo para uma festa promovida pelo astro James Franco em sua nova mansão. E, lá, não é somente James Franco que aparece interpretando uma versão impiedosamente caricatural e hedonista de si próprio: Vemos também a cantora Rihanna, os atores Jason Segel, Emma Watson e Michael Cera (numa versão terrivelmente irresponsável, inconsequente e promíscua do que supostamente seria o comportamento de um ator famoso), e os essenciais ao filme, Jonah Hill e Craig Robinson –todos, sem sombra de dúvidas, saídos do grupo de confiança de Rogen.
Até então, “É O Fim” não aparenta ser mais que uma comédia esquisita e um pouco ousada que flerta com as impressões da fama. Entretanto, ao acompanhar a decisão de Jay em ir a uma loja de conveniência junto de Seth, o filme entregará sua assombrosa guinada: Após um desastroso terremoto, raios azuis irrompem o céu (!) e capturam pessoas específicas entre a população. Uns são assim misteriosamente levados, outros ficam para ver a destruição que se segue por fogo e desmoronamento.
Na casa de Franco, contudo, ninguém percebeu o ocorrido (!!).
Após convencê-los –numa situação na qual a narrativa enfatiza o rídiculo da questão –alguns dos famosos citados até morrem (!) despencando num enorme buraco flamejante (nessa cena, temos também a aparição breve de Paul Rudd, o “Homem-Formiga”).
Rogen, Baruchel, Franco, Hill e Robinson têm a ideia de ficar na mansão de Franco, sobrevivendo com a água e a comida que há lá –isso até descobrirem que junto com eles está também o espaçoso e inconveniente (e, com frequência, o mais engraçado do filme) Danny McBride.
Forçados ao convívio, todos esses personagens, dotados do pouco de sensatez que têm, procuram racionalizar a situação: Ao que parece o Apocalypse Bíblico ocorreu, com o arrebatamento das almas boas e tudo o mais, e à eles, atores famosos, só restou experimentar o inferno na Terra (!).
O roteiro (do próprio Rogen) especula os desdobramentos realistas dessa situação certamente nada realista, embora explicíta a partir da definição da crença de muitas pessoas –e ainda que de certo o filme não almeje controvérsia na abordagem indireta da religião, ele sem dúvidas não a evita.
A verdade é que, em sua galhofa incontrolável, não dá para levar “É O Fim” muito à sério.
Mesmo nos momentos em que se pretende tenso, por exemplo, o filme conduz deliberadamente ao riso; um riso nervoso é bem verdade, mas riso ainda assim.
Uma mescla de comédia adolescente e debochada, referências improváveis, improvisão encorajada e solta e uma certa coragem inconsequente, este trabaho é, como outros assinados por Rogen, um exemplo do estilo muito peculir e significativo de um autor em meio à mesmice da comédia norte-americana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário