Diretora colocada no radar das grandes
bilheterias pela comédia romântica “O Diário de Bridget Jones”, Sharon Maguire
tentou um vôo mais ambicioso com este “Incendiário”.
Embora seja (ou assim se pretenda) um drama
contundente sobre o luto, a estrutura no fim das contas acaba até lembrando
“Bridget Jones”: Como nele, há uma protagonista bem desenvolvida e fascinante
(características que a embriagante Michelle Williams conserva intactas do
início ao fim) e o foco narrativo, a despeito de todo o contexto, voltado para
sua indecisão entre dois homens distintos. Aqui, no caso, o mulherengo, playboy
e jornalista Jasper (Ewan McGregor) que contra muitas expectativas se mostra
genuinamente apaixonado; e o amigo relutante, porém envolvente Terrence
(Matthew MacFadyen).
Tudo o mais, entretanto, é deliberadamente
diferente da comédia romântica que fez a fama de sua diretora: E esse
radicalismo estilístico é tão abrupto, convicto e proposital que ela aqui
parece quase renegá-lo.
Negligenciada pelo marido –que trabalha
arduamente no esquadrão anti-bombas e anti-terrorismo inglês –e integralmente
dedicada ao filho pequeno, a personagem de Michelle não deixa de aproveitar os
ocasionais momentos de liberdade para ser tudo aquilo que ela não é: Uma mulher
sedutora, sensual e promíscua.
E é assim que Jasper a encontra pela primeira
vez. Sendo ambos vizinhos, a despeito da diferença de classe social, os
encontros (menos de natureza romântica e muito mais de natureza sexual) se sucedem. No segundo deles, enquanto transam no sofá do
bagunçado apartamento, uma tragédia oferece a grande e dramática guinada da
trama: Um atentado ocorre no mesmo estádio em que o filho e o marido dela foram,
vitimando milhares, eles incluso (e Jasper só não estava lá porque optou por
ficar com ela!).
Viúva e sem o filho para cuidar, a personagem
de Michelle mergulha num pesar indescritível que, em dado momento –não obstante
os esforços de Jasper e Terrence em tentar lhe trazer conforto –ameaça
roubar-lhe a sanidade.
Se há um elemento que impede o filme de Sharon
Maguire de ceder por completo às mediocridades melodramáticas com as quais seu
estilo parece flertar desde o começo é a presença perfeita e impecável de
Michelle Williams que eleva o filme com uma atuação primorosa em seus mais
íntimos pormenores.
Mas, uma grande atriz ainda não é capaz de
fazer milagres: Sem um roteiro que esboce motivações plausíveis ou
inteligíveis, e sem uma direção que conduza a narrativa com mais parcimônia e
menos pieguice, tudo que ela pode fazer é valorizar as cenas dando dimensão
plenamente humana à sua personagem (mérito que, numa intensidade um pouco mais
baixa, McGregor e MacFadyen também dividem com ela).
É pois um elenco excelente e empenhado que
Maguire reuniu a frente das câmeras, pena que ela não tinha um material
verdadeiramente qualitativo e digno para fazer jus a ele.
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