terça-feira, 25 de setembro de 2018

Incendiário


Diretora colocada no radar das grandes bilheterias pela comédia romântica “O Diário de Bridget Jones”, Sharon Maguire tentou um vôo mais ambicioso com este “Incendiário”.
Embora seja (ou assim se pretenda) um drama contundente sobre o luto, a estrutura no fim das contas acaba até lembrando “Bridget Jones”: Como nele, há uma protagonista bem desenvolvida e fascinante (características que a embriagante Michelle Williams conserva intactas do início ao fim) e o foco narrativo, a despeito de todo o contexto, voltado para sua indecisão entre dois homens distintos. Aqui, no caso, o mulherengo, playboy e jornalista Jasper (Ewan McGregor) que contra muitas expectativas se mostra genuinamente apaixonado; e o amigo relutante, porém envolvente Terrence (Matthew MacFadyen).
Tudo o mais, entretanto, é deliberadamente diferente da comédia romântica que fez a fama de sua diretora: E esse radicalismo estilístico é tão abrupto, convicto e proposital que ela aqui parece quase renegá-lo.
Negligenciada pelo marido –que trabalha arduamente no esquadrão anti-bombas e anti-terrorismo inglês –e integralmente dedicada ao filho pequeno, a personagem de Michelle não deixa de aproveitar os ocasionais momentos de liberdade para ser tudo aquilo que ela não é: Uma mulher sedutora, sensual e promíscua.
E é assim que Jasper a encontra pela primeira vez. Sendo ambos vizinhos, a despeito da diferença de classe social, os encontros (menos de natureza romântica e muito mais de natureza sexual) se sucedem. No segundo deles, enquanto transam no sofá do bagunçado apartamento, uma tragédia oferece a grande e dramática guinada da trama: Um atentado ocorre no mesmo estádio em que o filho e o marido dela foram, vitimando milhares, eles incluso (e Jasper só não estava lá porque optou por ficar com ela!).
Viúva e sem o filho para cuidar, a personagem de Michelle mergulha num pesar indescritível que, em dado momento –não obstante os esforços de Jasper e Terrence em tentar lhe trazer conforto –ameaça roubar-lhe a sanidade.
Se há um elemento que impede o filme de Sharon Maguire de ceder por completo às mediocridades melodramáticas com as quais seu estilo parece flertar desde o começo é a presença perfeita e impecável de Michelle Williams que eleva o filme com uma atuação primorosa em seus mais íntimos pormenores.
Mas, uma grande atriz ainda não é capaz de fazer milagres: Sem um roteiro que esboce motivações plausíveis ou inteligíveis, e sem uma direção que conduza a narrativa com mais parcimônia e menos pieguice, tudo que ela pode fazer é valorizar as cenas dando dimensão plenamente humana à sua personagem (mérito que, numa intensidade um pouco mais baixa, McGregor e MacFadyen também dividem com ela).
É pois um elenco excelente e empenhado que Maguire reuniu a frente das câmeras, pena que ela não tinha um material verdadeiramente qualitativo e digno para fazer jus a ele.

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